terça-feira, 25 de agosto de 2009

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Menina Morango por Rodrigo Rosa


Amigos, retorno a postar mais uma capítulo da Menina Morango no blog. A demora de vermos mais um hq aqui foi que eu precisava descobrir o paradeiro dessa aventura que ganhei como presente de aniversário do meu amigão Rodrigo Rosa.
Não tinha título esse quadrinhos e acabo de batizar de "Menina Morango e Cao". Rodrigo desenhou e escreveu essa hq depois de uma vez que resolvemos os dois partir para brainstorm maluco onde escrevi e ele desenhou uma hq como se fosse tudo em um plano contínuo.
Putz, não sei se fui muito claro, mas o que eu quis dizer foi que uma vez fomos até a casa do Rodrigo e no caminho eu contava as minhas idéias para ele sobre o universo da Menina Morango. Quando chegamos na "Rosacave" iniciamos a história "Dia dos Mortos" (essa hq fecha um arco, a primeira saga da Menina Morango, nasceu antes da "Menina Morango e Cao", influenciou o Rodrigo a escrever e desenhar solo uma hq da Menina Morango e quando eu fiz 23 anos ele me deu os originais de presente. )
Reli a pouco essa "Menina Morango e Cao". Foi uma viagem ao passado. Voltei aos meus 22 anos, para as tardes ensolaradas do inverno de 92 onde vivi em um outro universo acompanhando uma sensual e maga menina com gosto de morango. Agora posto aqui e compartilho com todos a visão que o Rosa tinha desses meus delírios.

Tudo aqui no link abaixo:
http://cristinameninamorango.blogspot.com/2009/08/menina-morango-e-cao-texto-e-desenhos.html

Boa leitura.

Carlos Ferreira.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ethon e seu peculiar verbo sobre a Picabu 4:

Lançar quadrinhos é lançar marcas no tempo, por isso é tão bom juntar forças e se coordenar quando as histórias são feitas. Foi esta a realização da Peek-a-boo#4 também, mas em narrativas completas, trazendo para o desenho questões de incomunicabilidade, sob pretexto de tratar do corpo

humano, de nossos movimentos cotidianos, com linguagens ligadas aos usos tecnológicos e costumes adquiridos e/ou drasticamente perdidos, maiores enxugamentos e embaralhamentos textuais, grande diversidade (duas narrativas por autor, uma ilustração por narrativa). Questões de convívio, incidentes de percurso, coreografias e parábolas particularizando universos e universalizando traços equívocos e nem tanto assim, do princípio ao fim, entretendo aliás, imaginário eletrônico para além de bastidores e ensaios, peças de divulgação e notícias de eventos, numa interface mais condizente com as relações em curso e inserções sociais almejadas. Um dos sete integrantes do grupo participa exclusivamente com argumentos para os traços de dois colegas, Rodrigo Rosa volta às cargas d´água em tintas clássicas de humor cronista da aldeia, Fabiano Gummo agrega sua equipe em eventos por fora e entra com tudo flertando com absurdos e dando o que falar e calar, em histórias cujas ilustrações também rendem até capa do bojudinho volume que satisfaz deixando gostinho de quero mais. Outras resenhas se obrigam a contextualizar certa publicação em praças esquisitas ou advertir sobre condimentos mais picantes para as convenções de mercado, por algo que também faz lembrar de experiências maiores e desde São Paulo. Como partícipe das edições anteriores e redator de doidivanas profecias propagandistas não tenho como afetar neutralidade: finalmente cada participação é como a aquisição de um time, que ainda leva o nome Cortazareano de Bestiário, conta com Rafael Sica, Moacir Martins, uma de cujas ilustrações foi para o trono da capa e o próprio Carlos Ferreira, que carrega em tintas de climas que podem não ficar atrás dos da “Rotina na Terra das Risadas”, seu (grande) feito da edição anterior, do início dos anos de 1990 e lendas da menina morango. Não seria pela sabotagem da gráfica naquele 3o número, mas pelo desenvolvimento de estilos artísticos na parábola muda “ondas” e na adaptação de conto do Leandro Adriano revelando preferências anatômicas pouco suspeitas. Os papos da narrativa seguir muito de rolos televisivos e cinematográficos também se verifica com bandas desenhadas que nunca precisaram ficar remoendo velharias, mas vão se equacionando nos percursos independentes de projetos conseqüentemente diferenciados e crescidos, ainda que se tenha decidido manter o título oral da desbotada (por força de sabotagem, e que fique bem escuro, sim?) “revista independente” (como fomos batizados pela própria Panacéia desde São Paulo e entre outros prêmios). Nick Neves também volta, e de viagens, novos trabalhos, e nem tão novos, mas não menos brilhantes, de ilustração, artes e partes eletrônicas, para dar formas a idéias do Leandro Adriano ganhando ilustração bônus (de Moacir) e etc. Para fechar com chave de ouro (e página vermelha) o tijolinho, mais Rafael Sica. Depois de algumas risadas em terras de rotinas (poucas), um lançamento desses pode mexer com as estruturas de um desses que vos falam. Talvez faça bem. Sei lá, dessas espontaneidades de baterias de escolas que não combinam demais com seus astros para sustentá-las nas pulsações de prosas, fluentes e/ou consistentes, da linguagem em jogo, siamesa do cinema, mas filha do jornalismo com artes gráficas em busca de um bom partido estético e narrativo.

Como disse, e sem ter sido o primeiro, estou envolvido nessa até os miolos, de modo que essa acaba sendo boa candidata a uma dessas publicações mágicas cuja mera abertura já constitui verdadeiro evento na vida de um. Esperem mais um pouquinho que vou dar uma conferida nisso e aquilo. Mais um pouquinho...

Pronto. Ah, fazia tempo mesmo, e era quase conveniente estacionar ali, para dar o tempo que tivemos de dar: projeto gráfico em desenhos do Alemão Guazzelli, edição temática, arranjo de narrativas razoável com uma reimpressão aludindo a uma “geração” anterior de publicações em “Morbidez & Desejo”, encarte de contos ilustrados, anúncios conceituais (só faltava a gráfica não “pifar” nos próprios prazos e serviços). A quarta edição, quer dizer, publicação da revistinha costurando produções, esta com figuras colando as peças assombrosamente diversas numa pilha de páginas trazendo aparições de personagens misteriosos, olhos, passos, mãos, reúne olhares sobre as tosqueiras da vida com questões diversas do próprio visual, vida de fazer questão, diversa da estética do feio, mas encarando brutalidades mais chocantes que as obsolescências tecnologicamente programadas e internas aos próprios lares nossos de cada dia desses. Ah, sim, rever é preciso, curtindo os tais procedimentos de estilo, as tintas carregadas com força no P&B deste número desde a capa com direito a picadeiro estrelado e ícones sem rosto, poucas e boas letras abrindo com o chavão de John Archibald Wheeler, que esse povo dos “quadrinhos”, aliás “histórias em quadros” como se lê na mesmíssima capa, se notabiliza mesmo por ler, e publicamente manifestar o que está achando, contando ou não, de histórias, diálogos, (des)falas, em apresentação de papéis em telas por blogues para todos os lados e essa juntada dos destinos provisórios, de cenários, no que for ser a revista, de encontros e/ou desencontros? Sim, sim, rola isso por aí mesmo, por sinal minha questão na festa era justamente a respeito do processo combinativo do pretexto temático. Viagem? Na verdade, uma “equação” está sendo programada: estrada + viagem = Jornada. Algo assim, para não estragar surpresa, que uma química com liga não está fácil de achar, nem nos bolos do dia a dia. O olho mergulha, cola, derrapa, aciona memória, se emociona, dança. Até a próxima! “Em qualquer campo, descubra a coisa mais estranha e depois explore-a.” J. A.W. Ah, nem vou comentar mais o índice, que no próximo número pode ser mais “útil”, como guia para itinerâncias da leitura, mas seria parte dos rostos de que demos falta nalguns quadros de mais de um autor e ilustrador. Celebrar é preciso?

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Entrevista antiga no site Alan Moore senhor do Caos

Quadrinista CARLOS FERREIRA (Revista CAOS)

por José Carlos Neves

“Carlos Ferreira, editor do saudoso (mesmo!) fanzine Peek-a-Boo, é um quadrinista com cancha em salões Brasil afora, volta e meia conquistandoprêmios. Seu trabalho é bastante autoral, o que, no Brasil, sempre reflete em uma redução brutal de visibilidade. Ver uma história sua publicada, porém, sempre dá satisfação ao leitor.

Em Caos, sua empreitada mensal, Ferreira evoca os trabalhos mais autorias e autobiográficos de Alan Moore, como The Birth Caul, em que o aspecto simbólico toma conta da história até o sufoco do leitor. Não por acaso, um texto do criador de Do Inferno e Watchmen encerra a série. Certamente também não é coincidência a semelhança física de Cao com Carlos Ferreira.

Em casos como este, o leitor é convidado a acompanhar a trama - com uma ressalva: é preciso disposição para entrar no ambiente sinuoso da história. Como sempre, há recompensas para os bem-aventurados. A começar pela arte que, exceto no epílogo, distribui a história em quadros únicos que ocupam as páginas integralmente. O traço de Carlos Ferreira está bem fino o tempo todo, gerando um branco incomum e perturbador, que contrasta com o enredo entrevado - se a escuridão impede a visão apenas temporariamente, o excesso de luz pode cegar para sempre.”

Esta “apresentação-e-resenha-crítica” de Eduardo Nasi (também nosso Entrevistado), no inigualável site UniversoHQ, me fez interessar instantaneamente pelo material de Carlos Ferreira e contata-lo, para o “papo” que se segue.

-Vamos lá, Ferreira, hands-up e entregue: idade, onde nasceu, cresceu e vive atualmente, estado civil, filhos? Formação acadêmica e profissão?

A minha idade é trinta e três, nasci em Porto Alegre e foi aqui que cresci e vivi quase toda a minha, mas vivi uns anos em Buenos Aires, por volta de três anos. Sou casado e tenho um filho. Sou artista, formado em quadrinhos, autodidata, mas trabalho como diretor, roteirista, diretor de arte, ilustrador, músico, professor, publicitário (infelizmente já fui e às vezes sou obrigado a ser) e editor. Um verdadeiro faz tudo, um biscateiro como diz a minha mãe.

-O quê e quando iniciou seu interesse pelos Quadrinhos e Artes Plásticas em geral?

Os quadrinhos sempre de alguma forma estiveram presentes na minha vida, eu lembro da primeira revista que ganhei da minha mãe, eu tinha quatro ou três anos, passamos por uma banca de revista e pedi um revistinha do gordo e magro. Lembro que eu desenhava muito que eu via na tv, ultramen, ultraseven, naves espaciais e monstros. Mas lembro também um momento que eu tinha uma total aversão dos quadrinhos, isso com os meus dez anos. Eu odiava história de super-heróis e faroeste. Tenho as imagens na minha memória dos meus tios lendo um gibi do homem-aranha, algum gibi do Tex, um amigo que era um puta desenhista me mostrando a sua coleção de horror com a Kripta, Calafrios e Batman da Ebal. O nome desse meu amigo é Junior e ele queria transformar um outro amigo, Leandro, num super-herói. Mesmo sendo fã do desenho do homem aranha, eu odiava os quadrinhos de super-herói. Mas a coisa começou a mudar de figura com os meus treze anos, ou quartoze anos. Quando eu ia caminhado para o colégio e passava por uma banca de revista que tinha a venda à revista Espada Selvagem de Conan. Era a edição número três, com capa do Bill Sienkievicz como fiquei sabendo depois. Nessa época eu estava com um problema de saúde um pouco parecido com o da personagem Elijah do filme Um Corpo Fechado. O meu fêmur esquerdo teve uma fratura que nunca cicatrizava, tive que fazer uma cirurgia e quase perdi a perna. Comprei aquela revista do Conan com os meus treze, mas a li meses depois com quatorze não podendo caminhar direito, com dores e repousando na cama, lembro de tirar a revista debaixo da mesa da tv no meu quarto e começar a ler. O meu mundo apartir dali mudou.

-Na infância você lia muito, tanto HQ quanto Literatura mainstream? Pode citar autores e obras que o influenciaram?

Eu já tinha uma inclinação por ficção na infância. A tv era o meu elo com a arte, e a televisão na década de setenta oferecia programas mais interessantes do que hoje, mesmo que hoje tenhamos programas e série com mais qualidades técnicas e dinheiro, naquela época ainda experimentavam mais e por isso eram mais criativos. Hoje olhamos parte desses programas e os achamos ingênuos, mas se deixássemos de lado as limitações dessas séries, veriam que cada uma tinha uma identidade muito própria. Lembra do Túnel do Tempo? O Homem de Seis Milhões de Dólares? Além da Imaginação? Kung Fu? Patrulha Estelar? James West? Johnny Quest? E vai pedrada...

Eu também vi muitos filmes clássicos na tv, Hichtcock, filmes do John Ford, Roman Polanski, filmes Noir, terror e outras maravilhas. A tv foi uma das maiores escolas para narrativa e enquadramento. Inacreditável como o nível hoje caiu. Podia se tirar muito proveito com dois ou três canais, mas hoje esse veículo realmente é burro. O cinema era um luxo para mim, vi Super-Homem, Império Contra Ataca e mais coisas...

A literatura nasceu depois dos quadrinhos, eu já lia o Demolidor de Frank Miller na Revista Super Aventura Marvel, o que eu gostava nos quadrinhos era o que para mim, era cinema no papel. Frank Miller, John Buscema, John Byrne passavam essa atmosfera. Lendo esses autores eu queria saber o que se passava na cabeça deles e como aprenderam a desenvolver as suas narrativas, quais eram as suas influências e como surgiram.

Eu já tinha dezesseis anos quando me recuperei da minha perna e fiz novos amigos que por coincidência também gostavam de quadrinhos. Esses amigos são Trein e Drégus. Nesta fase começou a aprendizagem de ler muita literatura principalmente Raymond Chandler, Poe, Lovecraft e Borges. As obras que me influenciaram foram O Longo Adeus, Histórias Extraordinárias, Um Sussurro nas Trevas e O Aleph.

-Conte nos a gênese da CAOS,suas motivações , repercussão...

A CAOS nasceu de uma necessidade enorme de eu querer me encontrar. Acho que no período antes do CAOS eu estava dentro de um vórtice e sem controle sobre a minha vida. As coisas e confusões aconteciam. Uma chuva de eventos me empurrava há um descontrole sobre as minhas decisões e práticas. Eu provoquei muitos acidentes e deturpei muitos relacionamentos sem intenção direta. A base dos quadrinhos que eu faço tem como nascença a minha vida dos meus dezoito anos aos trinta e poucos. CAOS se passa quando eu tinha vinte nove. Eu desenhava uma seqüência inspirada na série Millennium, Frank Black (Will Black) sendo atacado por dragões imaginários enquanto dirigia. Essa seqüência não existia na série, mas eu queria aprofundar de alguma forma na personagem. Tudo por que eu identificava coisas minhas na personagem. A vida da personagem tinha muitos nós, era como eu via a minha. E quem fez esses nós seria uma força invisível dotada de consciência. Eu queria ver essa força, eu queria identificar os seus movimentos e interagir com ela. Provoquei uma série de eventos e fui ludibriado. Precisei expor tudo na CAOS, que não é um relato literal mas é um registro do que tudo aquilo significou para mim.

-Você se interessa, além da curiosidade, pela fascinante Teoria do Caos, seus fractais e grande potencial criativo?

Eu tenho um interesse na Teoria do Caos e o que ele gera. É tudo mais Caos do que ordem na minha opinião. O fato de eu estar aqui falando sobre o Caos, devido a uma história chamada Caos, há um site com nome de O Senhor do Caos é a própria comprovação do Caos.

-Quais obras (quadrinhos, literárias, cinema) que julga melhor ter aplicado o Caos como metáfora?

Na literatura o que vem na minha cabeça agora é o conto Aleph, do Borges. Nos quadrinhos adaptação da Cidade de Vidro por Mazzuchelli. No cinema falamos do ¶, do Darren Aranafosky. Hoje são desses que falo, mas amanhã eu poderia citar outros nomes.

-Fale-nos sobre os contos e arte relacionados ao Caos que esse fanzine publica. Como você “recruta” os autores e seleciona o material? – baseado em que requisito?

A maior parte das colaborações na CAOS foi pedida por mim aos amigos que já conheciam o Universo Ferreteria. Walter Pax é a colaboração mais ativa por que somos vizinhos e conversamos muitos sobre a CAOS, tem até um sonho que ele teve comigo ilustrado ali. Mateus é outro que esteve acompanhando o projeto, eu pedi para ele desenhar um demônio saindo da tv, depois ele desenhou o próprio Frank Black. O Scott leu os dois primeiros e pediu para colocar um conto, foi total produto do acaso eu gostei disso foi o único conto e é bem Scott. Tem um desenho do meu sobrinho que é o primeiro desenho dele publicado, estou falando de um desenho do Gabriel Ferreira, esse ainda vai contar muitas histórias. O Mena me enviou uma colaboração depois de ter lido os três primeiros. O Moacir quis brincar de ser Carlos Ferreira é obvio que sempre ele vai ser Moacir Martins. O Pilla me presenteou com um desenho e eu publiquei. O mesmo aconteceu com a Roberta. Do Daniel eu tinha aqueles postais há anos e enquanto eu rodava as CAOS olhava esses desenhos e via que, sem querer, eram dentro do universo da série. William Blake era indispensável. Todos expressaram livres, sem uma orientação de como seguir nos seus estilos. Eu gosto das diferenças e divergências gráficas que estão ali marcadas.

-O que você tem feito atualmente no gênero? Quais seus novos projetos?

Bom, eu tenho feito diversas coisas. Tenho desenhado páginas de diferentes histórias e me decidido para qual vou seguir com mais velocidade. Estou desenvolvendo histórias curtas e longas. Estou revendo antigos roteiros e arquitetando uma linha de produção mais rápida. Vou lançar um livro de contos, que de certa forma é uma continuação do Caos, estou na pré de um longa em digital que também quero fazer uma versão em quadrinhos. Estão todas essas histórias relacionadas com o Caos.

-O que é mesmo a “Ferreteria Quadrinhos”, sua própria Editora? Partiu para a “auto-publicação” por opção ou por desinteresse das outras editoras?

Sim, a Ferreteria Quadrinhos é a minha própria editora. Sou muito dominador do que eu faço, tenho uma postura bem objetiva sobre como quero e o que eu quero. Ter uma outra editora interessada em publicar as minhas histórias é algo que até já tá em negociação. Mas eu tenho muito prazer em editar. Gosto de provocar o objeto como uma revista ou um livro e ver ele virar matéria, se divulgar e circular pelo mundo.

-Porque você parou com o seu famoso “Peek-a-Boo”? O que de melhor, ao seu ver, esse zine publicou? E porquê?

A Peek-a-Boo parou por discordância e preguiça. Foi como uma banda que tinha um gás e energia para fazer rock. Nós queríamos provocar, mudar o mundo contando histórias em quadrinhos. O time era bem bacana Walter Pax e Jack Kaminski, Rodrigo Rosa, Fábio Zimbres, Leandro Adriano, Eloar Guazzelli, Ethon Fonseca e outros. Nós tínhamos os fixos e os convidados e a cada número elaborávamos temáticas, mas esses temas tinham que aparecer sutis. O primeiro era sobre crimes, o segundo sobre realismo mágico, o terceiro sobre amor e morte. Essas histórias não se encaminhavam para gêneros comuns. Eram todas muito climáticas e algumas de humor negro. Foi uma trilogia impressa. Acabamos ganhado uma admiração de fãs e somos considerados um clássico. Acho isso muito engraçado por que vejo os limites e defeitos na Peek, mas a energia de rock estava lá era bacana. Hoje eu teria condições técnicas para o retorno da Peek, mas não sei.

-O que você acompanha em Quadrinhos hoje?

Eu acompanho algumas coisas, sou compulsivo com os quadrinhos. Dos quadrinhos industriais, gosto do selo Vertigo, mas a minha batida é buscar autores, não importa se são em fanzine, internet, álbuns ou revistas. Eu também tenho o hábito da releitura. Estou sempre relendo Corto Maltese do Hugo Pratt, Allack Sinner do Sampayo e Muñoz, Mort Cinder do Osterheld e Breccia que são os meus preferidos.

-Você sabe que neste site, tudo praticamente gira em torno do cultuado autor e roteirista inglês Alan Moore. Que ele foi o criador da obra From Hell , para os Quadrinhos, depois desperdiçada por Hollywood. E que ele,” para vencer a crise existencial dos 40 anos”, resolveu se tornar um mago. Estudou muito Aleister Crowley, Austin Osman Spare, participou de experiências e acontecimentos no mínimo “fora-do-script”, como ele gosta de descreve-los. Voce acredita na Magia, na Cabala e outros desdobramentos, ou tenta também - como o James Randi tupiniquim, Padre Oscar Quevedo - "explicar tudo à luz da Parapsicologia" ?

Eu sou meio Molder (Arquivo-X), Dale Cooper (Twin Peaks), Frank Black (Millennium). Deixo vivo o meu lado Peter Pan. Tenho mente aberta e levo a minha sensibilidade em relação ao mundo muito a sério, mas sou totalmente cético a certas convenções, terminologias, e religiões.

-O que você pensa da Magia? Lê a respeito? Acredita nos seus “efeitos práticos”, na “sigilização”, por exemplo?

O que eu penso sobre Magia, é que a realidade é andar na calçada, magia é caminhar do meio da rua e ser sujeito a um atropelamento. Leio algumas coisas, geralmente ensaios mais antropológicos. Eu acredito no efeito disto na mente de todos e somos todos loucos. Isso traz uma certa conseqüência real. Afinal, a realidade é o que está na cabeça de cada um. Às vezes essa realidade pode ser bem distorcida é o que acontece na cabeça do Bush, por exemplo.

-Quando foi seu primeiro contato com o trabalho de Alan Moore e qual obra lhe causou algum impacto especial?

O meu primeiro contato com Alan Moore veio de uma conversação sobre um roteiro que eu tinha escrito e mostrado ao Drégus. Eu contei para Drégus algumas idéias que eu tinha para quadrinhos e o tipo de histórias que eu queria contar. Drégus dizia que não tinha mais como contar histórias novas de Horror. Era um gênero acabado, isso era por volta de 1886. Mas o que ele leu no roteiro que tinha escrito o deixou perturbado. Tu escreve histórias muito estranhas. Da onde tu tira isso?¨, ele me dizia com uma cara de assustado. A segunda opinião dele foi com uma ligação dizendo que eu deveria ler uma hq que ele tinha acabado de ler, era Lição de Anatomia, a primeira história do Monstro do Pântano. Eu não parei de ler Moore. Sem dúvida é um dos autores que mais gosto. Watchmen, V for Vendetta, Miracleman estão bem enraizadas dentro de mim. Eu aprendi muitas coisas lendo essas obras, coisas que transcende aos quadrinhos e se refletem na minha relação com o mundo. Do Inferno para mim, é a obra perfeita. Lembro que eu tinha terminado de escrever e desenhar a CAOS e comprei os tomos publicados pela Via Lettera. Eu li tudo de uma vez só e senti uma certa conexão com a CAOS. Tem muitos elementos próximos. Não quero me comparar a Moore, mas tenho alguns hábitos parecidos com ele. Quero provocar, contar uma história, evocar a memória do inconsciente coletivo, tocar na ferida e expurgar a mentira que nos colocam goela abaixo com a política cultural. Quando falo política cultural isso engloba a tudo, tudo é política. Religião, arte, relações humanas e etc.

-Qual trabalho do mago bardo de Northampton que você considera sua obra-prima e porquê?

A obra prima do Moore na minha opinião é a própria vida dele, vai parecer até fanatismo da minha parte... Eu não sei se Cristo existiu, mas Alan Moore sim, e esse está fazendo milagres. Ele está costurando um mundo que já se foi (rodeado de mitos e idéias mais desenvolvidas sobre o homem e o seu papel no universo) com cultura pop. Essa é a magia de Moore, transmutar a força da mitologia primitiva em modernidade. Através das suas obras se pode enxergar muito além do que nos é permitido.

-Ao seu ver, quais foram as inovações mais importantes do autor? Especificamente sobre Watchmen e sua instigante forma narrativa – já apelidada de O Cidadão Kane da Nona Arte – o que tem a nos dizer?

Antes de qualquer inovação técnica que veio com a obra do Moore, eu vejo a inovação humana. O comportamento e a moral de Moore é uma inovação ao mundo. Ele é um dos poucos senhores íntegros do planeta, é uma pena não termos na presidência desses paísinhos ricos. Eu prefiro ter um cara cheio de haxixe na cabeça, do que merda e uma curra mal resolvida do pai o que deve explicar o Bush. Mas da sua forma, Moore vai comandando o mundo.

-Você acha que ainda existe espaço para seres musculosos e com super-poderes, metidos em colantes, na verdadeira Cultura Pop, mais madura? Pergunto porque muitos fãs dos super-heróis, ao mesmo tempo que admiram Alan Moore, o detestam por considerar que ele praticamente destruiu o gênero com Watchmen. E você?

Cara, eu não sei o que pensar desses super-heróis. Sei que eles são ridículos e isso pode gerar muita carta na manga. Eu adoraria ser pago por essas megas editoras e ajudar ainda destruir mais esse gênero. Vejamos por um lado, tu sairia com uma capa, máscara e cuecas para bater na malandragem? Mas se tivesse a capacidade de voar e ficar invisível não seria uma maravilha? O que eu gosto neste tipo de quadrinhos é o flerte com o gênero fantástico. Mas a moral do bem contra o mal não é comigo. Principalmente essa histeria estranha por corpos musculosos e armas. Eu acho isso muito gay. É aí onde extravasa que o mundo é gay. Acho que isso é de um apelo sexual bem básico. Eu tenho um amigo que era fã do Conan e fã de heavy metal, ele tinha toda aquela pose representada nesse estilo. Musculoso, com cabelos compridos e couro. Em algum momento o cara entendeu o subtexto disso tudo e evolui. Aceitou a atração que tinha por tudo aquilo e por outros homens, aceitou que há uma supervalorização sexual e que precisava disso. De enrustido, inteligentemente aceitou sua opção sexual e não lê mais o Conan. Faz parte do pacote que é vendido nos super-heróis. Não são sós as mulheres peitudas vendem, são homens de cuecas com super sacos a maior quantidade produzida e vendida.

-E From Hell, você acha que Moore conseguiu atingir plenamente seu intento de forjar em uma HQ o caldeirão que nos preparou o Século XX, com toda sua paranóia, conspirações, contradições, horror e beleza?

Eu acho que todos os objetivos de Moore estão bem estruturados ali. O principal dele é contar uma história, contar o que ainda não tinha sido contado e contar bem contado. É isso que um escritor busca. É um dialogo entre o escritor e obra, onde uma platéia (que é o público) acompanha e é transformada com aquilo. Isso acontece com Do Inferno.

-O que pensa da Magia?

Eu penso que às vezes deveríamos esquecer palavras como magia, Deus e poderes ocultos. Deveríamos pensar mais sobre relação, solidão e limites. Buscar entender o significado dessas palavras. Depois se movimentar no mundo e praticar o que pode ser praticado com elas. Nós porcamente nos relacionamos, não admitimos que estamos sós e não aceitamos que temos limites. Isso para mim tem mais substância. Antes de querer ficar invisível e voar. Eu quero saber quem sou e o que sou.

-Mas, ainda nesta direção metafísica, qual é a sua concepção do Tempo? Considera-o a Quarta Dimensão do Espaço, como teorizou Einstein ou tem outra visão?

O tempo é o que também sou. O tempo é a minha memória.

-Como você imaginaria um ser da 4ª dimensão se pudesse ser visualizado por nossos sentidos tridimensionais (ou seja, da mesma forma que representamos num papel, uma superfície bidimensional, um objeto de três dimensões, ao desenharmos um cubo em perspectiva)?

Imagino que esses seres seriam todas as nossas fantasias. Nós redigimos o mundo deles, eles o nosso.

-Você chegou a ler aquela que seria a magnum-opus de Moore, BIG NUMBERS, pela qual sou absolutamente fissurado (que o digam os inúmeros Artigos neste site)? Em caso afirmativo, o que pensa que Alan Moore tentaria “dizer” com esta obra seminal?

Moore mostra nessa série que estamos todos interligados, somos todos um organismo vivo. O padrão de uma consciência. O caos.

-Voltando à sua produção, o quê você fez que considera o melhor até agora?

Caos é o mais parecido comigo. O mais próximo com o que virá.

-Você é indubitavelmente, um dos batalhadores por um autêntico Quadrinho nacional. Ele existe?

Eu acredito que sim. Aqui no Brasil nós fazemos um tipo de quadrinhos que eu não sei se existe no restante do mundo. Vejamos os americanos, por exemplo, eles como trabalhadores são sérios e profissionais, mas ao meu ver o que é produzido é frio e duro. Há exemplos de gênios e momentos na história dos quadrinhos



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americanos excepcionais, com produção autoral com A maiúscula, é o caso de Will Eisner, Robert Crumb, Frank Miller, Daniel Clowells, David Mazzuchelli e outros. Mas essa forte indústria caminha contra. Eles não saem desse bosta de universo de super-heróis! Chega, gente. Vamos deixar as cuecas de lado e incutir o terror! No Japão eu acho que existem coisas mais interessantes, muito do que não é exposto nos quadrinhos americanos, como sexualidade, certos tipos de conflitos, personagens mais humanos são visto em alguns quadrinhos, como é o caso de Evangelion, mas esse mercado também tem os seus baixos devido a grande produção.
O que acho que vou aprendendo no decorrer da minha carreira é que nos países como o Brasil existe um tipo de produção pioneira, uma devoção de poucos que vão lapidando um estilo que é seja miserável, morra de fome, mas faça quadrinhos. Fazer quadrinhos aqui, na América Latina, nos países pobres é ter uma puta devoção a arte. Eu sou narrador, um contador de história, não me importa se desenho bem o mal, se escrevo bem o mal, sou um doente, um compulsivo por histórias. Dedico a minha existência a ver, ouvir e criar narrativas pode ser num conto, numa hq, ou em um filme.

-O que você acha que dificulta para o quadrinista brasileiro sobreviver de sua arte? Falta de talento ou de mercado?

O que não existe no Brasil é indústria de quadrinhos. O mais próximo que estamos disso é a turma da Mônica, não temos DC, Marvel e Walt Disney. Mas há mercado se estamos aqui conversando sobre quadrinhos nacionais é por que há um mercado. Eu já comprei quadrinhos nacionais, tu já compraste. Muitos que estão aqui lendo já compraram. Mas é um tipo de mercado comparável ao mercado de drogas, eu sou um viciado por quadrinhos. Quem compra o quadrinho nacional é um viciado por quadrinhos. O que falta é legalizar esse mercado. Quem produz profissionalmente quadrinhos neste país é quase visto como marginal, eu não digo que pelo meio, mas pelo que está fora do meio. Quem compra quadrinhos também meio que se esconde. Só que todo mundo quer ver o Homem-Aranha no cinema.

-Como um profissional, também considera que o nosso artista “se vende” quando passa a publicar no Exterior, nos EUA principalmente, adequando-se ao estilo e mudando até mesmo de nome?

Eu também quero se comprado pelas editoras. Principalmente a Vertigo, mas trocar o nome e adequar o meu estilo, não obrigado! Custou-me muito ter o estilo que tenho, a postura que eu tenho, maturidade que ainda busco. Ser autor de quadrinhos foi uma opção de estilo de vida e filosofia. Quando narro uma história estou sempre atento aos erros e acertos, imprimo um senso de autocrítica e tento dar uma forte personalidade no que estou produzindo, imagina um mané chegando e dizendo: olha acho que essas mãos poderiam estar mais dramática, quem sabem tu deixa o peito dele mais grande, mais Jim Lee, Alex Ross, ou Marc Falrane. Pica! É o que eu diria. Quem sabe tu muda o teu nome de Carlos Ferreira para Charles Ferreira. Hahahaha! É a minha resposta.

-Ainda nesta área, conhece e o que acha do trabalho de Mike Deodato, atual campeão no desenho de super-heróis emblemáticos, da Marvel/DC?

O Deodato Borges Filho, mais conhecido como Mike Deodato. Impressionavam-me muito na sua fase brasileira, já as fases americanas eu estou aguardando para ver o seu Hulk que me parece uma busca por uma identidade própria, sem os clichês americanos.

-E os artistas brasileiros da “velha guarda” como Jayme Cortez, Ignácio Justo , Walmir Amaral, Salatiel de Holanda, Igayara, Colin, Shima, Edmundo Rodrigues, conheceu o trabalho deles?

Colin é o que tenho maior admiração e respeito. Eu sou um grande fã dele é o nosso Hugo Pratt.

E a “geração Vecchi/Grafipar? (Franco, Rodval Matias, Mozart Couto, Watson Portela, Cláudio Seto, Olendino e tantos outros)?

Mozart Couto foi o primeiro autor brasileiro que eu comprei. Eu gostaria muito de escrever um roteiro para ele.

-Você concorda que, depois de uma onda iniciada, ao meu ver, na Image, o desenho de super-heróis tem optado por uma arte mais realista – em termos de visual e não de temática.Melhor explicando: seres de músculos anabolizados impossíveis não são realistas. Mas sua representação no papel, quase sempre iluminados por no mínimo duas fontes de luz – uma mais forte e no lado oposto a esta, outra mais fraca, ou de luz rebatida, torna as figuras mais realistas, mais tridimensionais, se me entende – como faz Dale Keown e principalmente o italiano Paolo “Druuna”Serpieri. Concorda que existe esta tendência?

Eu não acompanho muito esse quadrinho, há quadrinhos bacanas na Image que infelizmente não estão saindo no Brasil. São histórias bem diferentes nos desenhos e textos. Sobre o realismo nos quadrinhos de super-heróis, eu acho impossível de existir textualmente, mas existem uns desenhistas realistas que eu curto, o Mike Allred é um exemplo. Tem um puta domínio de anatomia e naturalismo.

-O que você pensa do desenho anatômico do italiano Paolo Eleuteri Serpieri, criador da voluptuosa Druuna, principalmente em termos do uso da iluminação bi-lateral que ele faz e também de sua arte-final em traços cruzados, de diversas formas, para interpretar os vários tons de sombreamento no desenho?

Eu sei que é uma puta gostosa a dona desenhada, mas esse não é o meu tipo de quadrinhos. São desenhos superbem trabalhados e tal, mas falta uma energia e verdade ali. É um desenho para consumir punhetas, mas a minha batida vai, além disso. Sou mais o despertar das mentes adormecidas!

-Quais dos nossos autores e artistas você julga mais em condições de produzir uma obra de fôlego?

Tenho admirado o trabalho do nosso Carl Barks, André Diniz. Samuel Cassal, Rodrigo Rosa, Vinícius Martins. Lourenço Muttarelli é um autor que deveria ser exemplo para muitos. Fabio Zimbres é sempre bom. E Guilherme Pilla.

-E nas Artes Plásticas em geral, qual dos trabalhos que tem visto – HQs, ilustrações, esculturas, maquetes, etc - julga o melhor ou pelo menos promissor? Acha que temos um mercado para esta delimitada forma de Arte?

Guilherme Pilla, Rodrigo Rosa o grupo Upgrade do Macaco. Um é Artista Plástico, o outro é ilustrador e o grupo é um evento gráfico místico e urbano aqui de Porto Alegre.

-E você, o que tem feito em termos de Pintura? Quais os “salões” eu participou, premiações...?

Pintar ainda é um mistério para mim. Eu gosto de acrílica e aquarela, mas pinto muito pouco. Já participei de vários Salões como Piracicaba, Desenho de imprensa de Porto Alegre, Piauí e outros que não vou lembrar os nomes e locais.

-Como o leitor interessado pode adquirir seus Quadrinhos e quadros, quais os que estão disponíveis?

É só mandar um e-mail para ferreteria@brturbo.com e pedir a CAOS. Logo vou começar divulgar as próximas edições da Ferreteria.

-Experiências até do Pentágono, comprovaram a eficácia expressiva dos Quadrinhos em transmitir qualquer idéia por atingir, através do somatório sinérgico de imagens com texto, os dois hemisférios cerebrais. Será isto talvez que explique o grande sucesso do gênero nos paises do Oriente (China, Japão,Coréia principalmente), já que seus alfabetos ideogramáticos (os caracteres representam imagens e não sons) têm o mesmo efeito? Conhece algum estudo abalizado sobre o assunto? – a propósito e exemplificando, vários manuais de utilização e manutenção de armamentos e equipamentos militares, e ate´ uma certa “cartilha de ação guerrilheira” em “republiquetas latino-americanas” da CIA são produzidos justamente em forma de Histórias em Quadrinhos.

É o quadrinho o que move o mundo. Os cinemas, por exemplo, já não sobrevivem sem adaptações dos quadrinhos.

-Acha que as chamadas artes populares e de entretenimento, como o Cinema e os Quadrinhos, tem também esta capacidade de, através de seu experimentalismo formal, metalinguagem e outros recursos estilísticos, mas sobretudo de conteúdo humano, que realmente nos enleve, nos atingir em cheio como as obras literárias ? Pode mencionar exemplos?

A arte quando é real como arte nos constrói. É o que aconteceu comigo, sou o resultado de somas literárias, cinematográficas, quadrinhística. Sou filho de Hugo Pratt, Alan Moore, Muñoz, Orson Wells, David Lynch e Jorge Luis Borges. São ideais dessas personalidades e outras que me fizeram a buscar a minha perspectiva e as minhas próprias idéias não só como artista, mas como ser humano.

-Aproveitando a deixa, o que você achou de “Cidade de Deus” em termos formais e também no retratamento de uma realidade cruel, sim, mas que representa apenas uma das miríades de facetas de nossa realidade?

Eu só consigo ver o filme Cidade de Deus o que ele é, um filme de um apaixonado por cinema. É um western, um filme de gangster, uma reinvenção do cinema. Nós brasileiros também somos bons contadores de histórias, ou melhor não existe essa fronteira na arte, não existe uma geografia de mapa. Que é um bom contador é um bom contador, um bom filme é um bom filme. Agora eu não poderia analisar os aspectos sócias do filme por que não me cabe como artista.

-Retornando a temas mais filosóficos, que você acha que é a consciência em si?

A consciência em si é uma reunião inconsciente de muitas consciências que revelam uma única consciência em padrões infinitos.

-E a Inteligência Artificial, que tem tantos apologistas, como você acha que um córtex artificialmente criado – ainda que orgânico – pode desenvolver uma “consciência” digamos assim, como querem muitos autores de ficção?

Na série Matrix perderam a chance de contar algo com proporções de Kubrick. Era para o Neo despertar no final descobrindo ser uma inteligência artificial que vai ser a Matrix. Mas não rolou. Uma Inteligência Artificial teria que sonhar, reinterpretar o mundo para depois viver nele.

-O que acontece com a consciência após a morte?

Eu nunca poderia responder essa pergunta. Eu ainda não sei.

-Quais foram os eventos mais importantes que já ocorreram em sua vida?

Nascer, descobrir o desenho, quase perder a perna, optar ser um artista, me apaixonar involuntariamente, a morte do meu avô, dirigir filmes, o nascimento do meu filho, a morte do meu pai e beber o Ayhuaska.

-Qual foi a experiência mais louca que você já experimentou na vida?

Tomar um lsd e andar pelas ruas da Porto Alegre.

-Qual foi o sonho mais louco que você já teve?

Sonhei uma vez que eu era o um minotauro.

-E atualmente, o que lhe é realmente imprescindível, seminal?

Continuar vivo.

-Quais sites da web você visita com freqüência?

Blog de desenho, Marca Diabo e Universohq e agora o Alan Moore Senhor do Caos.

-Quase finalizando, o que tem a dizer sobre nosso modesto site, criticas e sugestões para aperfeiçoá-lo?

Digo-te para continuar a buscar respostas nessas investigações metafísicas e que vou acompanhar a tua busca pela verdade. É bom, ver que tu filtra isso com os quadrinhos. Longa vida ao teu site e para ti. Abraços.

-Obrigado, Amigo.

domingo, 9 de agosto de 2009

Caro F.,

Saibas que a tua ignorância não me matou. Ao contrário, estou forte e vivo. A tua omissão, ou manipulação nas sombras foi um clichê de risos. Digo que o espectro que tu vê, essa projeção que achas que sou, é só um prisma. Em breve vais conhecer a minha verdadeira forma e a ira do dragão contra a tua manipulação. Sim, velho. Diferente dos teus joguetes mantenho a minha perspectiva e a minha marca como um brasão a ser marcado sobre o teu nome.
Em breve...