segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ethon e seu peculiar verbo sobre a Picabu 4:

Lançar quadrinhos é lançar marcas no tempo, por isso é tão bom juntar forças e se coordenar quando as histórias são feitas. Foi esta a realização da Peek-a-boo#4 também, mas em narrativas completas, trazendo para o desenho questões de incomunicabilidade, sob pretexto de tratar do corpo

humano, de nossos movimentos cotidianos, com linguagens ligadas aos usos tecnológicos e costumes adquiridos e/ou drasticamente perdidos, maiores enxugamentos e embaralhamentos textuais, grande diversidade (duas narrativas por autor, uma ilustração por narrativa). Questões de convívio, incidentes de percurso, coreografias e parábolas particularizando universos e universalizando traços equívocos e nem tanto assim, do princípio ao fim, entretendo aliás, imaginário eletrônico para além de bastidores e ensaios, peças de divulgação e notícias de eventos, numa interface mais condizente com as relações em curso e inserções sociais almejadas. Um dos sete integrantes do grupo participa exclusivamente com argumentos para os traços de dois colegas, Rodrigo Rosa volta às cargas d´água em tintas clássicas de humor cronista da aldeia, Fabiano Gummo agrega sua equipe em eventos por fora e entra com tudo flertando com absurdos e dando o que falar e calar, em histórias cujas ilustrações também rendem até capa do bojudinho volume que satisfaz deixando gostinho de quero mais. Outras resenhas se obrigam a contextualizar certa publicação em praças esquisitas ou advertir sobre condimentos mais picantes para as convenções de mercado, por algo que também faz lembrar de experiências maiores e desde São Paulo. Como partícipe das edições anteriores e redator de doidivanas profecias propagandistas não tenho como afetar neutralidade: finalmente cada participação é como a aquisição de um time, que ainda leva o nome Cortazareano de Bestiário, conta com Rafael Sica, Moacir Martins, uma de cujas ilustrações foi para o trono da capa e o próprio Carlos Ferreira, que carrega em tintas de climas que podem não ficar atrás dos da “Rotina na Terra das Risadas”, seu (grande) feito da edição anterior, do início dos anos de 1990 e lendas da menina morango. Não seria pela sabotagem da gráfica naquele 3o número, mas pelo desenvolvimento de estilos artísticos na parábola muda “ondas” e na adaptação de conto do Leandro Adriano revelando preferências anatômicas pouco suspeitas. Os papos da narrativa seguir muito de rolos televisivos e cinematográficos também se verifica com bandas desenhadas que nunca precisaram ficar remoendo velharias, mas vão se equacionando nos percursos independentes de projetos conseqüentemente diferenciados e crescidos, ainda que se tenha decidido manter o título oral da desbotada (por força de sabotagem, e que fique bem escuro, sim?) “revista independente” (como fomos batizados pela própria Panacéia desde São Paulo e entre outros prêmios). Nick Neves também volta, e de viagens, novos trabalhos, e nem tão novos, mas não menos brilhantes, de ilustração, artes e partes eletrônicas, para dar formas a idéias do Leandro Adriano ganhando ilustração bônus (de Moacir) e etc. Para fechar com chave de ouro (e página vermelha) o tijolinho, mais Rafael Sica. Depois de algumas risadas em terras de rotinas (poucas), um lançamento desses pode mexer com as estruturas de um desses que vos falam. Talvez faça bem. Sei lá, dessas espontaneidades de baterias de escolas que não combinam demais com seus astros para sustentá-las nas pulsações de prosas, fluentes e/ou consistentes, da linguagem em jogo, siamesa do cinema, mas filha do jornalismo com artes gráficas em busca de um bom partido estético e narrativo.

Como disse, e sem ter sido o primeiro, estou envolvido nessa até os miolos, de modo que essa acaba sendo boa candidata a uma dessas publicações mágicas cuja mera abertura já constitui verdadeiro evento na vida de um. Esperem mais um pouquinho que vou dar uma conferida nisso e aquilo. Mais um pouquinho...

Pronto. Ah, fazia tempo mesmo, e era quase conveniente estacionar ali, para dar o tempo que tivemos de dar: projeto gráfico em desenhos do Alemão Guazzelli, edição temática, arranjo de narrativas razoável com uma reimpressão aludindo a uma “geração” anterior de publicações em “Morbidez & Desejo”, encarte de contos ilustrados, anúncios conceituais (só faltava a gráfica não “pifar” nos próprios prazos e serviços). A quarta edição, quer dizer, publicação da revistinha costurando produções, esta com figuras colando as peças assombrosamente diversas numa pilha de páginas trazendo aparições de personagens misteriosos, olhos, passos, mãos, reúne olhares sobre as tosqueiras da vida com questões diversas do próprio visual, vida de fazer questão, diversa da estética do feio, mas encarando brutalidades mais chocantes que as obsolescências tecnologicamente programadas e internas aos próprios lares nossos de cada dia desses. Ah, sim, rever é preciso, curtindo os tais procedimentos de estilo, as tintas carregadas com força no P&B deste número desde a capa com direito a picadeiro estrelado e ícones sem rosto, poucas e boas letras abrindo com o chavão de John Archibald Wheeler, que esse povo dos “quadrinhos”, aliás “histórias em quadros” como se lê na mesmíssima capa, se notabiliza mesmo por ler, e publicamente manifestar o que está achando, contando ou não, de histórias, diálogos, (des)falas, em apresentação de papéis em telas por blogues para todos os lados e essa juntada dos destinos provisórios, de cenários, no que for ser a revista, de encontros e/ou desencontros? Sim, sim, rola isso por aí mesmo, por sinal minha questão na festa era justamente a respeito do processo combinativo do pretexto temático. Viagem? Na verdade, uma “equação” está sendo programada: estrada + viagem = Jornada. Algo assim, para não estragar surpresa, que uma química com liga não está fácil de achar, nem nos bolos do dia a dia. O olho mergulha, cola, derrapa, aciona memória, se emociona, dança. Até a próxima! “Em qualquer campo, descubra a coisa mais estranha e depois explore-a.” J. A.W. Ah, nem vou comentar mais o índice, que no próximo número pode ser mais “útil”, como guia para itinerâncias da leitura, mas seria parte dos rostos de que demos falta nalguns quadros de mais de um autor e ilustrador. Celebrar é preciso?

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