segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Do blog do Grampá esse urro!

"Hoje em dia eu tenho uma certa restrição em aceitar desenhar o que me pedem, seja uma editora ou um admirador. Deve ser porque trabalhei minha vida inteira com publicidade e quando sou “mandado” ou tenha um cliente para aprovar, já torço o nariz na hora. Quando o trabalho é legal, com gente legal envolvida, tipo ilustrar o conto do Ruben Fonseca pra Playboy, faço feliz da vida. Apesar de eu não gostar do resultado desse trabalho – da minha parte eu digo – foi legal de fazer porque a galera da Playboy é classe A! Mas geralmente na publicidade ou até mesmo na área editorial, sempre me frustrei com as direções dos diretores de arte. 99% não sabem NADA e são cegamente arrogantes a ponto de nunca deixarem o artista com quem estão trabalhando sugerirem um caminho melhor do que eles mesmos estão propondo, que quase sempre é uma idéia vaga – aí fica aquela malandragem de fazer o artista desenhar MIL sugestões sem liberdade criativa e refações até ficar parecido com algo que eles já tenham visto, é claro – ou uma cópia mal encoberta de alguma outra coisa. Eu já trabalhei como diretor de arte durante anos e sei bem do que eu estou falando. Então, um recado para os diretores de arte: Primeiro, escolham BEM o artista que vocês querem trabalhar. Segundo, vocês precisam aprender com os artistas. Vocês só são diretores de arte porque amam arte – a maioria nem tanto na verdade, amam o status e o cartão com o “diretor” escrito, o que não significa porra nenhuma se o cara não tem a mãnha- e queriam muito ser artistas também – e muitos tem alma de artista e geralmente são esses que entendem do que estão falando- então, sejam humildes e deixem o artista cooperar criativa e artisticamente em vez de tratá-lo apenas como mão de obra pra justificarem o status de diretor. Assim o trabalho só vai melhorar e talvez sua carreira também melhore. E parem de copiar os gringos, isso é feio e todo mundo do seu meio sabe que você está copiando.

Pensando bem, acho que o segredo é sempre se focar no fluxo de criatividade e na experiência da aprendizagem pra fazer desenhos encomendados. O desenho pode não ser uma expressão pessoal sua no fim das contas, mas ninguém te tira o que você aprendeu com aquele desenho e com certeza essa experiência vai aprimorar o seu trabalho pessoal."

domingo, 22 de novembro de 2009

Zero!

Há dez anos, eu tive a ideia que hoje é até banal. A ideia era fazer um webquadrinhos. Por favor, não me entendas mal. Não estou dizendo que criei essa plataforma virtual. Ao contrário, eu na época fiquei curioso sobre essa tal internet, e pensei que estava na hora de me recriar começar do zero como autor de quadrinhos. Não só em um veículo, como em estilo. Buscar um novo jeito, um novo caminho de produzir quadrinhos. Então criei um novo personagem, falo de Zero. Eu não só queria fazer uma hq na web como queria falar do meu território e época. O fim dos anos 90 foi uma época peculiar na minha vida. Era o fim dos meus vinte e poucos anos. Fim do século, fim do milênio, fim de um relacionamento...
Mas também uma época que tudo começou e se consolidou. Ano de 1999, foi um ano que me integrei com a turma que fazia cinema de Super 8, as nossas reuniões regradas a tragos fenomenais no Ossip, depois finais de noites no Garagem Hermética, ou as vezes o destino era Quarta Quebrada e outras festinhas malucas no Ocidente com uma mulherada doida e confusa. Muitas drogas, sexo e rock and roll.
Coletei várias histórias psicodélicas e entre essas histórias nasceu Zero.
Para comemorar os 10 anos do Zero, vou postar essa hq aqui nos Quadrinhos Criticados. Boa leitura!

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Continua...

Músicos

sábado, 21 de novembro de 2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Amigos! ASSISTAM!



Interessante oportunidade de assistir ao documentário sobre a precursora da astrologia no Rio Grande do Sul, a Dona Emma de Mascheville. Direção de Rene Goya Filho.

Guilherme Pilla

- “Luz e Sombra no Paralelo 30” é uma história emocionante, da precursora da Astrologia no Rio Grande do Sul - explica o diretor, Rene Goya Filho.

Assistam no Histórias Curtas deste sábado, 21 de novembro, as 12h20, mais um documentário do Núcleo de Especiais da ESTAÇÃO ELÉTRICA. Agora é a vez de LUZ E SOMBRA NO PARALELO 30, dirigido por Rene Goya Filho. (Confira outros horários e canais além da equipe técnica no flyer anexo!)

A história de Emma de Mascheville, astróloga alemã que veio para Porto Alegre em 1930 e viveu na cidade até a sua morte, em 1981. Com uma vasta obra humanitária e intelectual, Emma criou teorias e é precursora da astrologia no Rio Grande do Sul. A partir de um estudo profundo da natureza humana e dos planetas, ela tornou-se conselheira de muitas pessoas. O documentário traz trechos de uma entrevista inédita da astróloga e depoimentos de alunos, parentes e amigos.

Lançamento do livro do Gilmar Rodrigues

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Como não escrever um roteiro – ou Apertem os Cintos que Deu a Louca no Império dos Super-Comics


(Parte I de 3)

Com quanta canoa se quebra o pau com a Marvel Comics?


Podemos começar com uma figura mais conhecida, V, aquele livro aberto botando o terror num sistema horroroso. A lenda ilustrada conta que ele mantinha uma galeria subterrânea repleta de cartazes, discos... ah, e livros, é claro. Com a dinâmicas das fixações nos artigos que se chamavam de culturais, atualizava seu repertório. Analogamente, a leitura do próprio seriado ou álbum é um caminho atravessado de informações. Só não deveriam restringir drasticamente o nosso horizonte – essa linha, nem tanto ao céu, nem tanto à terra, disputada e controversa. A decoração, composição de estímulos e lembranças, criava janelas, rotas de fuga e brechas para novos combates.

Decorar pode não ser bolinho, mas ler Histórias em Quadrinhos era deleite pelo qual me balançava com alguma informação, me aculturava no estrangeiro e me alfabetizava em línguas maternas e estrangeiras. Pois se não conheci a “terra do sol nascente” e do mangá, estive no hemisfério norte do “velho” e do “novo” mundo, pegando o bonde da escolaridade andando, aproveitando acervos públicos (e privados, familiares) de Bandas Desenhadas (como dizemos as nossas HQs no velho mundo), e ainda recomendo alguns estilos dessas leituras, nem que seja para a apreciação e o conhecimento de repertórios de uma língua – assim informada por tais e quais produções. Se estranhava, é verdade, a compenetração suscitada por uma literatura apoiada em imagens “prontas”, com tanta bagagem literária para se aprumar. Estranho o estranhamento buscando rebatê-lo com informação sem fronteiras, apanhados dela e composições, acercando-me de potenciais elos instigantes de um curso deste mundo da vida presentes na tortuosa formação de uns quantos hábitos de leitura e quiçá relações.

Um desses “elos” ou agentes culturais pelos quais um olhar inquisitivo poderia fazer algumas descobertas é outro que faleceu de tanto fumar, aos 60 anos, em Las Vegas, quando aguardava um transplante (10 de fevereiro de 2008). A longa e importante trajetória de Stephen Ross Gerber traz alguns méritos bem relevantes à discutível história dos Quadrinhos norte-americanos (os famosos Comics), reciclando e criando personagens, e zelando por uma etiqueta com respeito às suas escalações, com repercussões que seguem para mais além das próprias obras ficcionais e narrativas que escreveu. Mas a mais notória delas, não por acaso coincide com um de seus personagens próprios mais característicos e populares, passando por olímpicas intrigas palacianas que deram-lhe fama de arredio num sistema proprietário que acabou tendo de enfrentar judicialmente por uns quatro anos, após ter se tornado talvez digno de um posto de editor-chefe, ou de decliná-lo, se tivessem lhe oferecido. Foi em 1978 despedido por se dispor a batalhar direitos frente aos Sindicates (distribuidores de tiras para aqueles os jornais que foram o berço das HQs modernas, segundo a bem oficializada história deles, tão frequentemente adotada e globalizada por brasileiros) na justiça. Em 1982 Steve iria finalmente entrar num acordo “pessoal” com a “casa das idéias” Marvel, mas não antes de unir forças com Jack Kirby (o lendário-inigualável campeão-industrioso-olímpico dos desenhos sequenciais da tal linha de pretensa “super-ação”) na produção de Destroyer Duck arrecadando fundos para as batalhas judiciais por seus próprios personagens.

A conveniência de se conhecer e divulgar esta luta por dignidade e condições de trabalho também envolve o interesse por uma opinião profissional menos reverente e mais próxima à figura de Stan Lee (aquela tradicionalmente “apresenta” as narrativas da editora, talvez se interessando mais verdadeiramente por esta forma de mídia do que Walt Disney, que sabidamente se importava mesmo era com desenhos animados e os dispositivos mecânicos de seus notáveis brinquedos cenográficos). Tal curiosidade foi bastante satisfeita no desenvolvimento de uma entrevista de Philippe Garnier para uma legendária revista rockeira de “Bandas Desenhadas”, a métal hurlant (esta métal “berrante” é a publicação que daria origem à mais conhecida “Heavy Metal”) fundada por quatro aficionados da Ficção Científica e da HQ auto-intitulados “os humanóides associados”. Druillet, Moebius, Dionnet e Farkas, entre outros realizadores de narrativas gráficas, resistiram ideologicamente por mais de década aos pós-68, “imaginando”, calando fundo, imprimindo. Eram cem páginas de qualidades cada vez mais desiguais por edição, com um povo botando bronca em banca e os desenhistas querendo conhecer e dando conta de recados, não apenas de suas marcas “tribais”, referências profissionais, idiossincrasias e preferências íntimas, embora logicamente a banda também não se furtasse a passar por aí, bem pelo contrário. Algumas páginas chamavam graficamente a atenção para textos operando ganchos principalmente sob aspectos visuais e editoriais, mas também narrativos e até “publicitário”, bastante notáveis, valendo-se de gírias a granel e dos desenvolvimentos estilísticos mais sintéticos e midiáticos, jornalísticos mesmo, de então. A entrevista encontra-se no número 38, de fevereiro de 1979, com a capa divulgando o retorno de Gir-Moebius às produções do tenente Blueberry entre índios de far-west. A segunda capa veicula um manifesto, junto a mais seis importantes casas editoriais daquelas revistas ilustradas ditas recomendáveis a leitores adultos (incluindo as prestigiosas Casterman (A Suivre), Dargaud (Pilote) e Editions du Square (Charlie, B.D.), entre outras mais notavelmente humorísticas, como a Editions du Fromage (Echo des Savanes) e Editions Audie (Fluide Glacial), além da Elvifrance de Sam Bot, etc.) denunciando mordaças tirânicas de uma pesada proibição legislativa (de 1949, e apenas levemente atenuada em 1973) exercida em nome de uma suposta vigilância às publicações “infanto-juvenis” na França. Talvez nos interessassem mais aqueles artistas, que levavam jeito de tratar, de entoar, de desenhar, refletir, etc., naqueles tempos em que protestar era condição de possibilidade e defesa do direito humano a batalhar uma expressão mais livre e consistente ou consequente. Na página 26, “Réquiem para um Pato ou: Pato no Sangue” – parte dois da entrevista de Philippe Garnier a Steve Gerber em Hollywood – vinha desnudando até o cerne uma famosa corporação multinacional dos enlatados de papel. No epicentro do fenômeno, o pato Howard “aprisionado num mundo que ele jamais construiu!” antes mesmo de ter sua satírica figura de comédia – hoje casualmente em propriedade da Disney Company, com as demais personagens vinculadas ao conglomerado editoral da Marvel – cinematografada. Por sinal, eu soube da transação com a Disney, que oficialmente visa “conteúdo de marcas de qualidade, inovação tecnológica e expansão internacional”, numa coluna de jornal local ilustrada pelo irritadiço Howard avançando decididamente por supostos corredores em que cruzaria com outro pato maluco, agora seu colega, o tiozão, por assim dizer, Donald. Naturalmente que esta notícia me desencadeou uma pequena série de associações recordativas, isto e aquilo dando o estalo de queimar as pestanas e inicializando presentes considerações sobre ficções nossas de cada dia estendendo a palavra ao operário exemplar – e talvez ilustre desconhecido por estas paragens – Steve Gerber.

Ele tentara escapar de lugares manjados como Hollywood e Nova Iorque para a “cidade 24horas” de Las Vegas – voltando, portanto, aos anos 70, parecia interessante, para os seus famosos esquemas excêntricos de horário (famosos por conta de seus cochilos literais, lógico, que contrastavam com sua articulação expressiva com metáforas e competências narrativas destacadas). Um não-lugar? Cura para uma depressão nervosa? O entrevistador Philippe Garnier questiona a verdadeira tentativa de Steve morar ali mais por ter lido o então considerado melhor livro escrito sobre tal cenário, “Vegas”, onde o autor (John Gregory Dunne) relata ter se mudado para lá por um ano a fim de curar justamente sua depressão nervosa.

Encontrar Steve Gerber em Hollywood fora de uma facilidade infantil. O próprio Howard respondera na secretária eletrônica, “ou ao menos uma voz aquática do tipo”. Seguiram-se apenas duas horas de espera. Steve não estava muito cansado de lidar com a imprensa, em grandes crise ou coisa do tipo. Ao menos Philippe Garnier o encontrou muito amigável e tranquilo, além de (por que não dizer?) criativo, autêntico, humano.

A história com a Marvel é que, naquelas alturas, ela tinha tantos títulos que era possível passar um argumento ao artista sem mostrá-lo ao secretário de redação. Exatamente assim nasceu o Howard, em dezembro de 1973 na revista Adventure into Fear # 19: Roy Thomas só foi avisado quando já era tarde. Sobre a clara derramada, ele teria dito: tudo bem, vamos experimentar este número. Mas logo pediram que Steve Gerber desse um jeito de se livrar do personagem, o que ele fez à moda Marvel, ou seja: liquidando-o sem que ficasse morto “de verdade”. Os correios de leitores reagiram de forma surpreendente. A redação chegou a receber um animal morto, por exemplo, de um leitor do Canadá, com uma nota relativa à morte do pato tratando-os por “assassinos”. Obrigaram-se a devolver Howard à circulação das idéias editoriais e à “vida”. Em 1976 ganhou revista própria, que teve seus primeiros 26 números escritos pelo próprio Steve Gerber.

Como um empregado que teria sido o estopim daquela situação excêntrica acabou na prática do controle sobre a revista de linha (“comic-book”) Howard the Duck? Novamente em vista da situação, ninguém sabia precisamente o que se tinha em mente para a personagem, e em função do caráter industrial da Marvel, Gerber chegou à direção de quase todos os aspectos da publicação. “Stan Lee, que na época dava muitas conferências nas Universidades, não parava de perguntar à redação: como é que ele se chama mesmo, o pato de vocês?”

Uma ou duas dificuldades, que dizem respeito à censura: o número dois tinha um diálogo do casal protagonista sob lençóis. Quem gritou mais alto foi o pessoal do “código de ética” (que trabalha(va) só para isso mesmo), e foi preciso redesenhar o painel, de modo que ela permanecia sob cobertas e ele sobre elas (as cobertas), desnudo, mas sobre as cobertas. Como esse pessoal do gibi norte-americano realmente parece ter dado todo um novo sentido à palavra “patético”, vamos pular outro “episódio” desse tipo – cujo antecedente seria “les Stones” no provocativo rock´n Roling: “Let´s Spend the Night Together” (lançado em janeiro de 1966). Mas o curioso é que se esperava que a natureza de pato permitisse dessas liberdades, segundo o seu autor, já bem pouco apelativas para a época. Ele próprio nem se interessava realmente, na verdade, pelo que poderia haver por trás da relação do casal, como “pelas mesmas razões” nunca mostrou o país ou universo paralelo do qual vinha o protagonista.

O entrevistador (Philippe Garnier) repara que os roteiros de Steve Gerber enveredam frequentemente por trilhas inter-galácticas e pergunta se ele gosta de fazer essas coisas ou se é por trabalhar na Marvel. Na resposta há uma convicção de que as coisas neste formato são ideais para apenas “estes dois tipos de história”, decididamente não sendo a praia ideal para o meio de campo dos westerns, policiais ou histórias de guerra, por exemplo – apesar de eventuais produções luxuosas, de textos fartamente ilustrados, já saírem por aí a fora. “Tendo a preferir a história que chega das ruas, e acho que por um momento a Marvel também tomou este rumo, mas com a Marvel precisa sempre atenuar as coisas e dar a elas essa dimensão fantástica. Francamente não sei onde me situo. Estranho por estar absorto em projetos bem diversos, de quadrinhos, filme, livros, etc., mas nalgum sentido são estes projetos que me ajudam a me desembaraçar um pouco destes problemas.” Livros muito orientados ao fantástico, o filme não, mesmo que contenha elementos do fantástico, se passando em Las Vegas, que já é muito fantasiosa, complicando as coisas. Se o roteiro é encomendado? Não: “Nesta cidade, todo mundo sabe, precisa ter algo a se mostrar, então vou mostrar isso. Por sorte a mulher com quem vivo conhece todo mundo e sabe como as coisas acontecem por aqui, o que talvez me impeça de ficar demente.” Indagado pelas produções do velho mundo em “Banda Desenhada”, e mais particularmente a francesa, confessa não encontrar enredo tão atrativo como o possível interesse visual, mas diz estar mal situado para julgar, devolvendo educadamente a pergunta.

Aí chega o questionamento de um método que poderia parecer obviedade para o homem “que trabalha nisso há seis anos, mas para nós é um pouco misterioso, principalmente o lado esteira-de-produção de Marvel. Não há equivalente entre nós, talvez tirando os Studios Hergé nalguma época. Tecnicamente, como se escrevem roteiros de comics?” A usina marvete, em seus bastidores? “Primeiro se escreve uma sinopse, seis ou sete páginas, eventualmente mais. Isto depende com quem se trabalha; quando você conhece o sujeito que vai desenhar a história, você sabe mais ou menos o que ele vai colocar... Depois a sinopse vai para o pencilman, o desenhista que elabora toda a história a lápis conforme tuas instruções; ele acrescenta o seu toque pessoal ou não, conforme a personalidade dos colaboradores. Ele geralmente deixa um terço do quadro desocupado, para a inserção de balões. Depois disto a história volta ao writer, que dialoga. Mas, na prática, este diálogo depende da qualidade do desenho. Se o desenhista é dos bons, ele contou toda a história, então eu só preciso refinar e acrescentar minha própria contribuição, que é o diálogo, e o diálogo não deveria ter que contar a história; por exemplo com (Gene) Colan eu podia me permitir sutilezas que eu não podia com outros... Uma história deve ser desenhada de modo a ser imediatamente legível. O modo com que os quadros são divididos e dispostos é muito importante; é um pouco como a montagem para um filme.” O entrevistador se lembra de diagramações muito particulares de (Frank) Brunner, logo nos primeiros números da revista; e outra vez, com Colan, quando Bong e Howard afundam o assoalho do banheiro e aterrizam sobre os vizinhos de baixo em plena partida de poker: eles passam de quadro para quadro, como uma casa em plano de recorte. O exemplo é de história bem conduzida, mas existe o caso contrário, que chama a atenção para inverossimilhanças como no episódio (parece que) 21, do Soofi, quando Colan deixou o serviço e ele foi finalizado por um tapa-furos interino antes que Mayerik retomasse “a coleira”, um tal de Carmine Infantino, “filipino”. Numa página vê-se Soofi pegar Howard com uma mão; um quadrinho abaixo ele é arremessado pela outra. Por cúmulo, a máquina de lavar em que ele o joga abre de dois lados diferentes, os trincos da porta não estão do mesmo lado nos dois quadros. Quando isto ocorre na mesma página, fica muito ruim. Este é um caso de história não apenas nada inspirada, como um exemplo de história mal contada. Mal conduzida. Quando te chega um negócio desses, é muito difícil contar a história; é preciso costurar, explicar o que acontece. O melhor era não precisar fazer isso. É um pouco como no cinema, quando o/a continuista não faz o serviço, sim, mas para voltar ao processo de fabricação dos gibis, uma vez dialogados, a história e os painéis vão para o arte-finalista (que “dá as tintas”). Eu escrevo os diálogos dizendo página tanto, balão um, dois, três... Mas existe um letreirista para realizar os balões. Que são bastante limitados, quando se pensa a respeito: os balões não mudaram por anos; você tem o balão estático, com os estalactites; o balão relâmpago-explosão, o balão pensador, etc...” (de fato, quando pintam uns balões com personalidade, marcam náipes e estilo de uma revista Sandman, já nos anos 90, na outra editora cosmológica de comics, a DC – criando o selo “Vertigo”) “Voltamos ao que se dizia sobre os limites do gênero: as imagens não se movem, o lugar é muito limitado, o processo de impressão é tão nojento que, mesmo se os artistas fossem capazes de desenhar mais de cinco ou seis expressões, a sutilidade se perderia de qualquer maneira com as chapas – que são de plástico. Acredite em mim se quiser, mas chegaram a tentar fazer chapas de papel para economizar... Não funcionava... E antes, os comics tinham vinte páginas de cartoons; agora estamos reduzidos a dezessete. O que é de longe a pior extensão para contar uma história, eu te garanto que é.”

Redação e traduções para nosso Português: Ethon S. A. da Fonseca

Na próxima parte: o plasma do Kiss tem poder (nas HQs)? Chaves, fechaduras e trânsitos das cidades, seus proprietários e guardas zelosos (principalmente Stan Lee: descobrimo-lhe um autêntico surto de crise da consciência na famosa jogada publicitária com sangue derramado em que se viu envolvido!). Aguardem...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Mais um desenhista desabafa:

Olá a todos.

Recebi hoje, o link para um blog onde estava postado um comentário muito interessante a respeito de algo que eu e, acredito, a grande maioria de ilustradores que conheço, sofre desde o início da carreira. Em geral, as pessoas admiram muito nosso talento. Gostariam "de saber desenhar assim". Mas as pessoas esquecem que, quando se desenha, se desenha desde os 06 anos de idade, praticando todos os dias; observando uma maçã e a reproduzindo mil vezes até chegar num bom resultado; cursando uma faculdade de artes; fazendo vários cursos para administrar diferentes técnicas; que se gasta investindo em bons papéis; em bons pincéis; em computadores com estrutura suficiente para rodar os programas que damos jeito de aprender a usar, para podermos realizar, com cada vez mais competência, a nossa 'PROFISSÃO'. As pessoas esquecem que talentos precisam ser desenvolvidos e que merecem ser não apenas elogiados, mas também pagos. Perdi as contas de quantas pessoas acham que "é fácil" me sentar e desenhar um rosto em segundos. Ou ainda, de quantos "acham" válido pegarmos trabalhos de risco, ou mesmo não remunerados, só para ganharmos "visibilidade". A única coisa que explica essa atitude pra mim, é o fato de que as pessoas não entendem que desenhar é TRA-BA-LHO, ou seja: que além de prazeiroso é também árduo, exaustivo e que consome horas de dedicação como todo tipo de trabalho faz. Graças a Deus, eu e muitos dos meus colegas de área não estamos dispostos a não sermos devidamente valorizados e/ou remunerados.
Abaixo, o texto do link que recebi, bem como o próprio link, para quem quiser visitar o blog do autor do texto.
Abraços,
Tatiana Tesch

Não deixem de ler esse texto do Maringoni!!!

Tocaia, quadrinhos e elitização da cultura
Gilberto Maringoni

Acabo de lançar um livro de histórias em quadrinhos. Chama-se "Tocaia", tem 110 páginas (algumas coloridas) e 14 histórias. Custa 45 reais. Não vou ficar aqui falando do que penso serem as qualidades do livro, o que seria o cúmulo do cabotinismo. Todo autor gosta de ter seu livro vendido, lido e comentado. Espero que todos comprem o livro.

Meu livro não é barato. Cada vez mais os quadrinhos deixam de serem veiculados em gibis e ganham as páginas de livros. Mais que uma mudança de forma, o que está em pauta é uma alteração no mercado de entretenimento, que se elitizou ao longo das últimas três décadas.

Um aficionado por histórias em quadrinhos dos anos 1980 que tomasse um túnel do tempo e fosse catapultado para uma grande banca de jornais dos dias de hoje, estranharia muita coisa. A primeira delas seria estar diante de uma pequena loja de conveniências. Doces, brinquedos, sorvetes, refrigerantes, CDs, DVDs e bugigangas várias teriam quase o mesmo destaque das publicações em papel. A segunda é que quase não encontraria gibis para adultos. Constataria o virtual desaparecimento daquelas publicações baratas, geralmente em branco e preto e impressas em papel jornal. Caso desejasse outras opções, além de quadrinhos infanto-juvenis, teria de ir atrás de uma livraria e gastar algo como dez vezes o que desembolsaria em um gibi.

O espantado leitor de 1980 descobriria que os gibis, com preços equivalentes a uma passagem de ônibus e tiragens acima de 100 mil exemplares, estariam basicamente limitados às edições dos personagens Disney e Mauricio de Sousa. Se formos rigorosos, veremos que apenas este último mantém acesa a velha tradição. É, disparado, o campeão de vendas. Mônica, Cebolinha e sua turma, cada qual em gibis próprios, tiram individualmente mais de 150 mil exemplares por mês, enquanto as revistinhas do criador de Mickey e cia. mal alcançam dez mil cópias cada uma.

Para tentar compreender a profundidade das mudanças, é preciso recuar um pouco mais. Peguemos emprestado o túnel do tempo daquele leitor.

Mercado editorial
O Brasil criou um mercado editorial em expansão quase constante entre 1930 e 1980, coincidente com o mais longo ciclo de crescimento da economia brasileira. Apesar da grande entrada de material dos Estados Unidos, as demandas e ofertas dos dois países não estavam sintonizadas. O maior exemplo disso aconteceu na década de 1950, quando surgiram gibis de terror, suspense e mistério. Enquanto nos EUA, o macartismo ensejou uma feroz censura às revistinhas, criando um código de ética que impediu o desenvolvimento de produções voltadas para o leitor adulto, relegando o gênero à eterna adolescência, aqui ocorreu o inverso.

Com a quebra da produção estadunidense, de repente, as editoras nacionais se viram desabastecidas de conteúdo e tiveram de apelar para artistas nacionais. Desenvolveu- se, entre o início dos anos 1950 e o final dos anos 1970, embora precariamente, o que se poderia chamar de uma escola brasileira de história em quadrinhos. No âmbito do terror, conseguiu-se sair das vertentes góticas europeizantes e gerar adaptações coladas à mitologia popular brasileira, farta em almas penadas, lobisomens, botos etc. Estes conviviam nas bancas com patos, ratos e heróis mascarados.

A partir do início dos anos 1980, contudo, o crescimento avassalador da indústria de entretenimento estadunidense se impõe em todo o mundo, ao mesmo tempo em que a economia brasileira fica estagnada por um longo período. Gibis chegavam aqui com o filme, os brinquedos e com toda uma parafernália de produtos retratando os heróis prediletos da garotada. O mundo editorial brasileiro ficou a reboque do mercado norte-americano. A vertente de quadrinho popular adulto é esmagada pela concorrência assimétrica.

A grande beneficiária das mudanças é a editora Abril. Em 1981, ela domina o mercado, detendo os direitos dos super-heróis das grandes editoras dos EUA, dos personagens Disney e Maurício, além de outros títulos. O padrão era o formatinho (13,5 X 19 cm.), com revistas muito baratas e de altas tiragens. Nessa época, título que vendesse abaixo de 40 mil exemplares era cancelado pela empresa dos Civita.

Por influência das tendências do mercado dos EUA, na segunda metade da década de 1980, aprofunda-se a mudança nos rumos editoriais do gênero no Brasil.

Gibis de luxo
A série de quatro revistas O cavaleiro das trevas, uma releitura de Batman feita pelo norte-americano Frank Miller, um autor nitidamente de direita, torna-se a marca da época, vendendo cerca de 60 mil exemplares.

O plano Collor teve um efeito devastador no mercado editorial brasileiro. Houve uma queda abrupta no poder aquisitivo da população e as vendas desabaram. As redações de quadrinhos das grandes editoras são extintas. Somado a isso, o próprio mercado internacional enfrentava novos concorrentes. A chegada de outras mídias, voltadas para o público infanto-juvenil – como jogos eletrônicos, internet, o DVD e outros – reduziu o interesse desse segmento para histórias em quadrinhos. Praticamente acabam as revistas em formatinho – a exceção são os títulos infantis – e o preço nas bancas sobe significativamente. Há uma clara opção das editoras por um público mais elitizado, o que sustenta tiragens menores, por volta de 10 a 12 mil exemplares.

Para os grandes monopólios da mídia, aos quais as editoras dos Estados Unidos estão vinculadas, o interesse maior é o de ter as revistas como ponto de venda e campos de experimentação para os filmes de ação, que vêm caracterizando a produção hollywoodiana. O paradoxo é que, apesar das fantásticas bilheterias de películas do gênero, a vendagem das revistas empacou.

Elitização do lazer
A elitização do mercado de quadrinhos acompanha uma tendência que se verifica no cinema e no teatro. Os preços dos ingressos aumentaram cerca de cinco vezes em termos reais nos últimos 30 anos, buscando uma equivalência com os valores pagos nos países ricos. Assim, a migração do leitor adulto das bancas para as livrarias, consumindo álbuns de tiragens de dois a três mil exemplares, é decorrência dessa mudança de perfil. Migração que passa por um apertado funil econômico, é bom lembrar.

Qual a saída para um público crescente, de baixo poder aquisitivo, ávido por produtos culturais? Tem sido a busca de outras mídias, especialmente músicas e filmes, que podem ser baixados da Internet ou pirateados. Os DVDs vendidos por camelôs custam exatamente o preço de uma passagem de ônibus ou metrô, a referência do gibi e do cinema de outros tempos.

Possivelmente aquele leitor de 1980, mencionado no início desta matéria, deixasse de lado as bancas e se animasse com o farto comércio informal das calçadas. E chegasse à conclusão que as cruzadas contra a pirataria são parte da elitização do mercado de entretenimento.



Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ethon avisa:

Carlos, guerreiro, vou ser direto. Até parece que quando tomas uma atitude que pode ser apreciada como "blasé", o povo se coça, mas de fato o negócio é que estou precisando publicar eletronicamente para botar a pilha nas turmas fazerem as coisas, e tudo o que reflito de mais estimulante costuma passar pelos universos quadrinísticos (re)visitados, além de ser muito fodido me pensar como leitor sem considerar seriamente as linhas da gibizada. Estou acumulando para serializar alguns textos e montar uns rolos. Fui orientado a me inserir em grupos que já tem leitores a granel, num tal de sistema de indexação. Bem antes já estava pensando em como fazer referência à blogada e outros sítios do pessoal, e quero fazer algo na linha do estilo "publicado originalmente em..." para o meu rolo eletrônico. Tua blogolândia de "Arquiteto das Sombras" tá um bicho bem curioso, né? Cheia de bem marcantes elaborações diversas e video-"curiosidades". Pena fugir da "regra #1" de regularidade na atualização, mas o importante é que está acumulando um referencial, e ao qual gostaria, inclusive, de agregar uma modesta contribuição a partir de um formato básico de 3X2páginas (cada parte da "mini-série" tendo ao menos mais de uma página) que combinaria inicializar no teu blogue por outra coisa além da linha temática que leva no título e seu registro de aldeia internacional, de um possível retorno para gente já conhecida: elaborar um ponto da minha fama que não entendi ao certo, uma espécie de imagem de ideólogo "anti-heróis-marvel-unidos". Desencavei o artigo da "métal hurlant", que mais me botou pilhas neste sentido inclusive, de entrevista com o criador de Howard the Duck, Steve Gerber, e o estou elaborando. Originalmente é só a "parte 2", mas já entorna um caldo legal para os derivativos industriosos do ramo, me apresentaria como um carinha com algum material curioso ligado, iniciaria uma experiência na manha da aranha, enquanto arrumo uma casinha de leituras canônicas e aproveitamentos temático-curriculares na área. Não deixa de ser um material do bagulho chapa-quente de barato lento da indústria e do barulho, um olhar crítico devassando os bastidores da suprema Marvel dos anos 70, mas dá algumas letras, que me esforço em não avacalhar ainda mais, a quem interessar possa. Quem sabe no próximo final de semana já me animo a te passar um algo disso aí, para tua apreciação? Graficamente tem alguma coisa bacana para acompanhar, que posso fazer escanear, é lógico. Até como início de amostras visuais disso e daquilo, quem sabe, um tempero a mais. Não digo um ingrediente para o bolo, mas um início de resposta a "o teu lugar é aqui" do Rafael Sica, uma participação mais organizada para a pilha de fazer "bolos", certo? Quanto às tuas fornadas, fico sempre num aguardo meio doidão, que tu também é phoda, nunca dá para saber com que te vais sair da próxima, vídeo, foto, reportagem, hq, opinião, indicação (tipo de leitura), tese de projeto, divulgação, o escambau. Minha torcida está bem mais previsível, a partir de meu recuo com as chorumelas waltereanas e o grande mistério de "Spectrus" (a propósito, a explanação de Steve à questão de como se produz o quadrinhos industrial versa exatamente sobre o trabalho de dialoguista ser mesmo pós-desenhos) e de sua condição estacionária (mesmo após um certo "sinal verde" de NY). Não quero nem vou melecar-me com esse "assunto" que nem é meu (e demorei tanto para visualizar). O certo é que torço para sempre teres bastante coisa para desenhar e também para desengavetar, why not?, e que o faças, decididamente, combinando bem boas coisas. Tipo "Outubro" seria e é emblemático disso, já começastes, cadê as dosagens homeopágicas, digo homeopáticas, imprimindo solução de continuidade nos rolos? De minha parte quebrei muitas resistências às diluições pretensamente alquímicas e vou aprendendo a trabalhar um pouco tipo contando regressivamente, do fim e tal. Se a vida corre, também não somos de ficar parados. Admito ter muitas travas, aos tratos com mídias, por parte do meu s ramos, ainda confusão com parceria s nele, mas tão aí minhas posições, e desta vez elas prometem: algum tipo de cadência consequente compondo nos silêncios ou rolos das porras dos barulhos, mas phoder-se é por aí que vou, por horas escassas e alternadas loucuramas desde sempre, mas dando sinaizinhos de vidas do que há por aí. Fui claro?

Lembranças à "adorável vida em família" toda, grande amplexo e até mais!