quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Do blog do Grampá esse urro!

"Hoje em dia eu tenho uma certa restrição em aceitar desenhar o que me pedem, seja uma editora ou um admirador. Deve ser porque trabalhei minha vida inteira com publicidade e quando sou “mandado” ou tenha um cliente para aprovar, já torço o nariz na hora. Quando o trabalho é legal, com gente legal envolvida, tipo ilustrar o conto do Ruben Fonseca pra Playboy, faço feliz da vida. Apesar de eu não gostar do resultado desse trabalho – da minha parte eu digo – foi legal de fazer porque a galera da Playboy é classe A! Mas geralmente na publicidade ou até mesmo na área editorial, sempre me frustrei com as direções dos diretores de arte. 99% não sabem NADA e são cegamente arrogantes a ponto de nunca deixarem o artista com quem estão trabalhando sugerirem um caminho melhor do que eles mesmos estão propondo, que quase sempre é uma idéia vaga – aí fica aquela malandragem de fazer o artista desenhar MIL sugestões sem liberdade criativa e refações até ficar parecido com algo que eles já tenham visto, é claro – ou uma cópia mal encoberta de alguma outra coisa. Eu já trabalhei como diretor de arte durante anos e sei bem do que eu estou falando. Então, um recado para os diretores de arte: Primeiro, escolham BEM o artista que vocês querem trabalhar. Segundo, vocês precisam aprender com os artistas. Vocês só são diretores de arte porque amam arte – a maioria nem tanto na verdade, amam o status e o cartão com o “diretor” escrito, o que não significa porra nenhuma se o cara não tem a mãnha- e queriam muito ser artistas também – e muitos tem alma de artista e geralmente são esses que entendem do que estão falando- então, sejam humildes e deixem o artista cooperar criativa e artisticamente em vez de tratá-lo apenas como mão de obra pra justificarem o status de diretor. Assim o trabalho só vai melhorar e talvez sua carreira também melhore. E parem de copiar os gringos, isso é feio e todo mundo do seu meio sabe que você está copiando.

Pensando bem, acho que o segredo é sempre se focar no fluxo de criatividade e na experiência da aprendizagem pra fazer desenhos encomendados. O desenho pode não ser uma expressão pessoal sua no fim das contas, mas ninguém te tira o que você aprendeu com aquele desenho e com certeza essa experiência vai aprimorar o seu trabalho pessoal."

domingo, 22 de novembro de 2009

Zero!

Há dez anos, eu tive a ideia que hoje é até banal. A ideia era fazer um webquadrinhos. Por favor, não me entendas mal. Não estou dizendo que criei essa plataforma virtual. Ao contrário, eu na época fiquei curioso sobre essa tal internet, e pensei que estava na hora de me recriar começar do zero como autor de quadrinhos. Não só em um veículo, como em estilo. Buscar um novo jeito, um novo caminho de produzir quadrinhos. Então criei um novo personagem, falo de Zero. Eu não só queria fazer uma hq na web como queria falar do meu território e época. O fim dos anos 90 foi uma época peculiar na minha vida. Era o fim dos meus vinte e poucos anos. Fim do século, fim do milênio, fim de um relacionamento...
Mas também uma época que tudo começou e se consolidou. Ano de 1999, foi um ano que me integrei com a turma que fazia cinema de Super 8, as nossas reuniões regradas a tragos fenomenais no Ossip, depois finais de noites no Garagem Hermética, ou as vezes o destino era Quarta Quebrada e outras festinhas malucas no Ocidente com uma mulherada doida e confusa. Muitas drogas, sexo e rock and roll.
Coletei várias histórias psicodélicas e entre essas histórias nasceu Zero.
Para comemorar os 10 anos do Zero, vou postar essa hq aqui nos Quadrinhos Criticados. Boa leitura!

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Continua...

Músicos

sábado, 21 de novembro de 2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Amigos! ASSISTAM!



Interessante oportunidade de assistir ao documentário sobre a precursora da astrologia no Rio Grande do Sul, a Dona Emma de Mascheville. Direção de Rene Goya Filho.

Guilherme Pilla

- “Luz e Sombra no Paralelo 30” é uma história emocionante, da precursora da Astrologia no Rio Grande do Sul - explica o diretor, Rene Goya Filho.

Assistam no Histórias Curtas deste sábado, 21 de novembro, as 12h20, mais um documentário do Núcleo de Especiais da ESTAÇÃO ELÉTRICA. Agora é a vez de LUZ E SOMBRA NO PARALELO 30, dirigido por Rene Goya Filho. (Confira outros horários e canais além da equipe técnica no flyer anexo!)

A história de Emma de Mascheville, astróloga alemã que veio para Porto Alegre em 1930 e viveu na cidade até a sua morte, em 1981. Com uma vasta obra humanitária e intelectual, Emma criou teorias e é precursora da astrologia no Rio Grande do Sul. A partir de um estudo profundo da natureza humana e dos planetas, ela tornou-se conselheira de muitas pessoas. O documentário traz trechos de uma entrevista inédita da astróloga e depoimentos de alunos, parentes e amigos.

Lançamento do livro do Gilmar Rodrigues

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Como não escrever um roteiro – ou Apertem os Cintos que Deu a Louca no Império dos Super-Comics


(Parte I de 3)

Com quanta canoa se quebra o pau com a Marvel Comics?


Podemos começar com uma figura mais conhecida, V, aquele livro aberto botando o terror num sistema horroroso. A lenda ilustrada conta que ele mantinha uma galeria subterrânea repleta de cartazes, discos... ah, e livros, é claro. Com a dinâmicas das fixações nos artigos que se chamavam de culturais, atualizava seu repertório. Analogamente, a leitura do próprio seriado ou álbum é um caminho atravessado de informações. Só não deveriam restringir drasticamente o nosso horizonte – essa linha, nem tanto ao céu, nem tanto à terra, disputada e controversa. A decoração, composição de estímulos e lembranças, criava janelas, rotas de fuga e brechas para novos combates.

Decorar pode não ser bolinho, mas ler Histórias em Quadrinhos era deleite pelo qual me balançava com alguma informação, me aculturava no estrangeiro e me alfabetizava em línguas maternas e estrangeiras. Pois se não conheci a “terra do sol nascente” e do mangá, estive no hemisfério norte do “velho” e do “novo” mundo, pegando o bonde da escolaridade andando, aproveitando acervos públicos (e privados, familiares) de Bandas Desenhadas (como dizemos as nossas HQs no velho mundo), e ainda recomendo alguns estilos dessas leituras, nem que seja para a apreciação e o conhecimento de repertórios de uma língua – assim informada por tais e quais produções. Se estranhava, é verdade, a compenetração suscitada por uma literatura apoiada em imagens “prontas”, com tanta bagagem literária para se aprumar. Estranho o estranhamento buscando rebatê-lo com informação sem fronteiras, apanhados dela e composições, acercando-me de potenciais elos instigantes de um curso deste mundo da vida presentes na tortuosa formação de uns quantos hábitos de leitura e quiçá relações.

Um desses “elos” ou agentes culturais pelos quais um olhar inquisitivo poderia fazer algumas descobertas é outro que faleceu de tanto fumar, aos 60 anos, em Las Vegas, quando aguardava um transplante (10 de fevereiro de 2008). A longa e importante trajetória de Stephen Ross Gerber traz alguns méritos bem relevantes à discutível história dos Quadrinhos norte-americanos (os famosos Comics), reciclando e criando personagens, e zelando por uma etiqueta com respeito às suas escalações, com repercussões que seguem para mais além das próprias obras ficcionais e narrativas que escreveu. Mas a mais notória delas, não por acaso coincide com um de seus personagens próprios mais característicos e populares, passando por olímpicas intrigas palacianas que deram-lhe fama de arredio num sistema proprietário que acabou tendo de enfrentar judicialmente por uns quatro anos, após ter se tornado talvez digno de um posto de editor-chefe, ou de decliná-lo, se tivessem lhe oferecido. Foi em 1978 despedido por se dispor a batalhar direitos frente aos Sindicates (distribuidores de tiras para aqueles os jornais que foram o berço das HQs modernas, segundo a bem oficializada história deles, tão frequentemente adotada e globalizada por brasileiros) na justiça. Em 1982 Steve iria finalmente entrar num acordo “pessoal” com a “casa das idéias” Marvel, mas não antes de unir forças com Jack Kirby (o lendário-inigualável campeão-industrioso-olímpico dos desenhos sequenciais da tal linha de pretensa “super-ação”) na produção de Destroyer Duck arrecadando fundos para as batalhas judiciais por seus próprios personagens.

A conveniência de se conhecer e divulgar esta luta por dignidade e condições de trabalho também envolve o interesse por uma opinião profissional menos reverente e mais próxima à figura de Stan Lee (aquela tradicionalmente “apresenta” as narrativas da editora, talvez se interessando mais verdadeiramente por esta forma de mídia do que Walt Disney, que sabidamente se importava mesmo era com desenhos animados e os dispositivos mecânicos de seus notáveis brinquedos cenográficos). Tal curiosidade foi bastante satisfeita no desenvolvimento de uma entrevista de Philippe Garnier para uma legendária revista rockeira de “Bandas Desenhadas”, a métal hurlant (esta métal “berrante” é a publicação que daria origem à mais conhecida “Heavy Metal”) fundada por quatro aficionados da Ficção Científica e da HQ auto-intitulados “os humanóides associados”. Druillet, Moebius, Dionnet e Farkas, entre outros realizadores de narrativas gráficas, resistiram ideologicamente por mais de década aos pós-68, “imaginando”, calando fundo, imprimindo. Eram cem páginas de qualidades cada vez mais desiguais por edição, com um povo botando bronca em banca e os desenhistas querendo conhecer e dando conta de recados, não apenas de suas marcas “tribais”, referências profissionais, idiossincrasias e preferências íntimas, embora logicamente a banda também não se furtasse a passar por aí, bem pelo contrário. Algumas páginas chamavam graficamente a atenção para textos operando ganchos principalmente sob aspectos visuais e editoriais, mas também narrativos e até “publicitário”, bastante notáveis, valendo-se de gírias a granel e dos desenvolvimentos estilísticos mais sintéticos e midiáticos, jornalísticos mesmo, de então. A entrevista encontra-se no número 38, de fevereiro de 1979, com a capa divulgando o retorno de Gir-Moebius às produções do tenente Blueberry entre índios de far-west. A segunda capa veicula um manifesto, junto a mais seis importantes casas editoriais daquelas revistas ilustradas ditas recomendáveis a leitores adultos (incluindo as prestigiosas Casterman (A Suivre), Dargaud (Pilote) e Editions du Square (Charlie, B.D.), entre outras mais notavelmente humorísticas, como a Editions du Fromage (Echo des Savanes) e Editions Audie (Fluide Glacial), além da Elvifrance de Sam Bot, etc.) denunciando mordaças tirânicas de uma pesada proibição legislativa (de 1949, e apenas levemente atenuada em 1973) exercida em nome de uma suposta vigilância às publicações “infanto-juvenis” na França. Talvez nos interessassem mais aqueles artistas, que levavam jeito de tratar, de entoar, de desenhar, refletir, etc., naqueles tempos em que protestar era condição de possibilidade e defesa do direito humano a batalhar uma expressão mais livre e consistente ou consequente. Na página 26, “Réquiem para um Pato ou: Pato no Sangue” – parte dois da entrevista de Philippe Garnier a Steve Gerber em Hollywood – vinha desnudando até o cerne uma famosa corporação multinacional dos enlatados de papel. No epicentro do fenômeno, o pato Howard “aprisionado num mundo que ele jamais construiu!” antes mesmo de ter sua satírica figura de comédia – hoje casualmente em propriedade da Disney Company, com as demais personagens vinculadas ao conglomerado editoral da Marvel – cinematografada. Por sinal, eu soube da transação com a Disney, que oficialmente visa “conteúdo de marcas de qualidade, inovação tecnológica e expansão internacional”, numa coluna de jornal local ilustrada pelo irritadiço Howard avançando decididamente por supostos corredores em que cruzaria com outro pato maluco, agora seu colega, o tiozão, por assim dizer, Donald. Naturalmente que esta notícia me desencadeou uma pequena série de associações recordativas, isto e aquilo dando o estalo de queimar as pestanas e inicializando presentes considerações sobre ficções nossas de cada dia estendendo a palavra ao operário exemplar – e talvez ilustre desconhecido por estas paragens – Steve Gerber.

Ele tentara escapar de lugares manjados como Hollywood e Nova Iorque para a “cidade 24horas” de Las Vegas – voltando, portanto, aos anos 70, parecia interessante, para os seus famosos esquemas excêntricos de horário (famosos por conta de seus cochilos literais, lógico, que contrastavam com sua articulação expressiva com metáforas e competências narrativas destacadas). Um não-lugar? Cura para uma depressão nervosa? O entrevistador Philippe Garnier questiona a verdadeira tentativa de Steve morar ali mais por ter lido o então considerado melhor livro escrito sobre tal cenário, “Vegas”, onde o autor (John Gregory Dunne) relata ter se mudado para lá por um ano a fim de curar justamente sua depressão nervosa.

Encontrar Steve Gerber em Hollywood fora de uma facilidade infantil. O próprio Howard respondera na secretária eletrônica, “ou ao menos uma voz aquática do tipo”. Seguiram-se apenas duas horas de espera. Steve não estava muito cansado de lidar com a imprensa, em grandes crise ou coisa do tipo. Ao menos Philippe Garnier o encontrou muito amigável e tranquilo, além de (por que não dizer?) criativo, autêntico, humano.

A história com a Marvel é que, naquelas alturas, ela tinha tantos títulos que era possível passar um argumento ao artista sem mostrá-lo ao secretário de redação. Exatamente assim nasceu o Howard, em dezembro de 1973 na revista Adventure into Fear # 19: Roy Thomas só foi avisado quando já era tarde. Sobre a clara derramada, ele teria dito: tudo bem, vamos experimentar este número. Mas logo pediram que Steve Gerber desse um jeito de se livrar do personagem, o que ele fez à moda Marvel, ou seja: liquidando-o sem que ficasse morto “de verdade”. Os correios de leitores reagiram de forma surpreendente. A redação chegou a receber um animal morto, por exemplo, de um leitor do Canadá, com uma nota relativa à morte do pato tratando-os por “assassinos”. Obrigaram-se a devolver Howard à circulação das idéias editoriais e à “vida”. Em 1976 ganhou revista própria, que teve seus primeiros 26 números escritos pelo próprio Steve Gerber.

Como um empregado que teria sido o estopim daquela situação excêntrica acabou na prática do controle sobre a revista de linha (“comic-book”) Howard the Duck? Novamente em vista da situação, ninguém sabia precisamente o que se tinha em mente para a personagem, e em função do caráter industrial da Marvel, Gerber chegou à direção de quase todos os aspectos da publicação. “Stan Lee, que na época dava muitas conferências nas Universidades, não parava de perguntar à redação: como é que ele se chama mesmo, o pato de vocês?”

Uma ou duas dificuldades, que dizem respeito à censura: o número dois tinha um diálogo do casal protagonista sob lençóis. Quem gritou mais alto foi o pessoal do “código de ética” (que trabalha(va) só para isso mesmo), e foi preciso redesenhar o painel, de modo que ela permanecia sob cobertas e ele sobre elas (as cobertas), desnudo, mas sobre as cobertas. Como esse pessoal do gibi norte-americano realmente parece ter dado todo um novo sentido à palavra “patético”, vamos pular outro “episódio” desse tipo – cujo antecedente seria “les Stones” no provocativo rock´n Roling: “Let´s Spend the Night Together” (lançado em janeiro de 1966). Mas o curioso é que se esperava que a natureza de pato permitisse dessas liberdades, segundo o seu autor, já bem pouco apelativas para a época. Ele próprio nem se interessava realmente, na verdade, pelo que poderia haver por trás da relação do casal, como “pelas mesmas razões” nunca mostrou o país ou universo paralelo do qual vinha o protagonista.

O entrevistador (Philippe Garnier) repara que os roteiros de Steve Gerber enveredam frequentemente por trilhas inter-galácticas e pergunta se ele gosta de fazer essas coisas ou se é por trabalhar na Marvel. Na resposta há uma convicção de que as coisas neste formato são ideais para apenas “estes dois tipos de história”, decididamente não sendo a praia ideal para o meio de campo dos westerns, policiais ou histórias de guerra, por exemplo – apesar de eventuais produções luxuosas, de textos fartamente ilustrados, já saírem por aí a fora. “Tendo a preferir a história que chega das ruas, e acho que por um momento a Marvel também tomou este rumo, mas com a Marvel precisa sempre atenuar as coisas e dar a elas essa dimensão fantástica. Francamente não sei onde me situo. Estranho por estar absorto em projetos bem diversos, de quadrinhos, filme, livros, etc., mas nalgum sentido são estes projetos que me ajudam a me desembaraçar um pouco destes problemas.” Livros muito orientados ao fantástico, o filme não, mesmo que contenha elementos do fantástico, se passando em Las Vegas, que já é muito fantasiosa, complicando as coisas. Se o roteiro é encomendado? Não: “Nesta cidade, todo mundo sabe, precisa ter algo a se mostrar, então vou mostrar isso. Por sorte a mulher com quem vivo conhece todo mundo e sabe como as coisas acontecem por aqui, o que talvez me impeça de ficar demente.” Indagado pelas produções do velho mundo em “Banda Desenhada”, e mais particularmente a francesa, confessa não encontrar enredo tão atrativo como o possível interesse visual, mas diz estar mal situado para julgar, devolvendo educadamente a pergunta.

Aí chega o questionamento de um método que poderia parecer obviedade para o homem “que trabalha nisso há seis anos, mas para nós é um pouco misterioso, principalmente o lado esteira-de-produção de Marvel. Não há equivalente entre nós, talvez tirando os Studios Hergé nalguma época. Tecnicamente, como se escrevem roteiros de comics?” A usina marvete, em seus bastidores? “Primeiro se escreve uma sinopse, seis ou sete páginas, eventualmente mais. Isto depende com quem se trabalha; quando você conhece o sujeito que vai desenhar a história, você sabe mais ou menos o que ele vai colocar... Depois a sinopse vai para o pencilman, o desenhista que elabora toda a história a lápis conforme tuas instruções; ele acrescenta o seu toque pessoal ou não, conforme a personalidade dos colaboradores. Ele geralmente deixa um terço do quadro desocupado, para a inserção de balões. Depois disto a história volta ao writer, que dialoga. Mas, na prática, este diálogo depende da qualidade do desenho. Se o desenhista é dos bons, ele contou toda a história, então eu só preciso refinar e acrescentar minha própria contribuição, que é o diálogo, e o diálogo não deveria ter que contar a história; por exemplo com (Gene) Colan eu podia me permitir sutilezas que eu não podia com outros... Uma história deve ser desenhada de modo a ser imediatamente legível. O modo com que os quadros são divididos e dispostos é muito importante; é um pouco como a montagem para um filme.” O entrevistador se lembra de diagramações muito particulares de (Frank) Brunner, logo nos primeiros números da revista; e outra vez, com Colan, quando Bong e Howard afundam o assoalho do banheiro e aterrizam sobre os vizinhos de baixo em plena partida de poker: eles passam de quadro para quadro, como uma casa em plano de recorte. O exemplo é de história bem conduzida, mas existe o caso contrário, que chama a atenção para inverossimilhanças como no episódio (parece que) 21, do Soofi, quando Colan deixou o serviço e ele foi finalizado por um tapa-furos interino antes que Mayerik retomasse “a coleira”, um tal de Carmine Infantino, “filipino”. Numa página vê-se Soofi pegar Howard com uma mão; um quadrinho abaixo ele é arremessado pela outra. Por cúmulo, a máquina de lavar em que ele o joga abre de dois lados diferentes, os trincos da porta não estão do mesmo lado nos dois quadros. Quando isto ocorre na mesma página, fica muito ruim. Este é um caso de história não apenas nada inspirada, como um exemplo de história mal contada. Mal conduzida. Quando te chega um negócio desses, é muito difícil contar a história; é preciso costurar, explicar o que acontece. O melhor era não precisar fazer isso. É um pouco como no cinema, quando o/a continuista não faz o serviço, sim, mas para voltar ao processo de fabricação dos gibis, uma vez dialogados, a história e os painéis vão para o arte-finalista (que “dá as tintas”). Eu escrevo os diálogos dizendo página tanto, balão um, dois, três... Mas existe um letreirista para realizar os balões. Que são bastante limitados, quando se pensa a respeito: os balões não mudaram por anos; você tem o balão estático, com os estalactites; o balão relâmpago-explosão, o balão pensador, etc...” (de fato, quando pintam uns balões com personalidade, marcam náipes e estilo de uma revista Sandman, já nos anos 90, na outra editora cosmológica de comics, a DC – criando o selo “Vertigo”) “Voltamos ao que se dizia sobre os limites do gênero: as imagens não se movem, o lugar é muito limitado, o processo de impressão é tão nojento que, mesmo se os artistas fossem capazes de desenhar mais de cinco ou seis expressões, a sutilidade se perderia de qualquer maneira com as chapas – que são de plástico. Acredite em mim se quiser, mas chegaram a tentar fazer chapas de papel para economizar... Não funcionava... E antes, os comics tinham vinte páginas de cartoons; agora estamos reduzidos a dezessete. O que é de longe a pior extensão para contar uma história, eu te garanto que é.”

Redação e traduções para nosso Português: Ethon S. A. da Fonseca

Na próxima parte: o plasma do Kiss tem poder (nas HQs)? Chaves, fechaduras e trânsitos das cidades, seus proprietários e guardas zelosos (principalmente Stan Lee: descobrimo-lhe um autêntico surto de crise da consciência na famosa jogada publicitária com sangue derramado em que se viu envolvido!). Aguardem...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Mais um desenhista desabafa:

Olá a todos.

Recebi hoje, o link para um blog onde estava postado um comentário muito interessante a respeito de algo que eu e, acredito, a grande maioria de ilustradores que conheço, sofre desde o início da carreira. Em geral, as pessoas admiram muito nosso talento. Gostariam "de saber desenhar assim". Mas as pessoas esquecem que, quando se desenha, se desenha desde os 06 anos de idade, praticando todos os dias; observando uma maçã e a reproduzindo mil vezes até chegar num bom resultado; cursando uma faculdade de artes; fazendo vários cursos para administrar diferentes técnicas; que se gasta investindo em bons papéis; em bons pincéis; em computadores com estrutura suficiente para rodar os programas que damos jeito de aprender a usar, para podermos realizar, com cada vez mais competência, a nossa 'PROFISSÃO'. As pessoas esquecem que talentos precisam ser desenvolvidos e que merecem ser não apenas elogiados, mas também pagos. Perdi as contas de quantas pessoas acham que "é fácil" me sentar e desenhar um rosto em segundos. Ou ainda, de quantos "acham" válido pegarmos trabalhos de risco, ou mesmo não remunerados, só para ganharmos "visibilidade". A única coisa que explica essa atitude pra mim, é o fato de que as pessoas não entendem que desenhar é TRA-BA-LHO, ou seja: que além de prazeiroso é também árduo, exaustivo e que consome horas de dedicação como todo tipo de trabalho faz. Graças a Deus, eu e muitos dos meus colegas de área não estamos dispostos a não sermos devidamente valorizados e/ou remunerados.
Abaixo, o texto do link que recebi, bem como o próprio link, para quem quiser visitar o blog do autor do texto.
Abraços,
Tatiana Tesch

Não deixem de ler esse texto do Maringoni!!!

Tocaia, quadrinhos e elitização da cultura
Gilberto Maringoni

Acabo de lançar um livro de histórias em quadrinhos. Chama-se "Tocaia", tem 110 páginas (algumas coloridas) e 14 histórias. Custa 45 reais. Não vou ficar aqui falando do que penso serem as qualidades do livro, o que seria o cúmulo do cabotinismo. Todo autor gosta de ter seu livro vendido, lido e comentado. Espero que todos comprem o livro.

Meu livro não é barato. Cada vez mais os quadrinhos deixam de serem veiculados em gibis e ganham as páginas de livros. Mais que uma mudança de forma, o que está em pauta é uma alteração no mercado de entretenimento, que se elitizou ao longo das últimas três décadas.

Um aficionado por histórias em quadrinhos dos anos 1980 que tomasse um túnel do tempo e fosse catapultado para uma grande banca de jornais dos dias de hoje, estranharia muita coisa. A primeira delas seria estar diante de uma pequena loja de conveniências. Doces, brinquedos, sorvetes, refrigerantes, CDs, DVDs e bugigangas várias teriam quase o mesmo destaque das publicações em papel. A segunda é que quase não encontraria gibis para adultos. Constataria o virtual desaparecimento daquelas publicações baratas, geralmente em branco e preto e impressas em papel jornal. Caso desejasse outras opções, além de quadrinhos infanto-juvenis, teria de ir atrás de uma livraria e gastar algo como dez vezes o que desembolsaria em um gibi.

O espantado leitor de 1980 descobriria que os gibis, com preços equivalentes a uma passagem de ônibus e tiragens acima de 100 mil exemplares, estariam basicamente limitados às edições dos personagens Disney e Mauricio de Sousa. Se formos rigorosos, veremos que apenas este último mantém acesa a velha tradição. É, disparado, o campeão de vendas. Mônica, Cebolinha e sua turma, cada qual em gibis próprios, tiram individualmente mais de 150 mil exemplares por mês, enquanto as revistinhas do criador de Mickey e cia. mal alcançam dez mil cópias cada uma.

Para tentar compreender a profundidade das mudanças, é preciso recuar um pouco mais. Peguemos emprestado o túnel do tempo daquele leitor.

Mercado editorial
O Brasil criou um mercado editorial em expansão quase constante entre 1930 e 1980, coincidente com o mais longo ciclo de crescimento da economia brasileira. Apesar da grande entrada de material dos Estados Unidos, as demandas e ofertas dos dois países não estavam sintonizadas. O maior exemplo disso aconteceu na década de 1950, quando surgiram gibis de terror, suspense e mistério. Enquanto nos EUA, o macartismo ensejou uma feroz censura às revistinhas, criando um código de ética que impediu o desenvolvimento de produções voltadas para o leitor adulto, relegando o gênero à eterna adolescência, aqui ocorreu o inverso.

Com a quebra da produção estadunidense, de repente, as editoras nacionais se viram desabastecidas de conteúdo e tiveram de apelar para artistas nacionais. Desenvolveu- se, entre o início dos anos 1950 e o final dos anos 1970, embora precariamente, o que se poderia chamar de uma escola brasileira de história em quadrinhos. No âmbito do terror, conseguiu-se sair das vertentes góticas europeizantes e gerar adaptações coladas à mitologia popular brasileira, farta em almas penadas, lobisomens, botos etc. Estes conviviam nas bancas com patos, ratos e heróis mascarados.

A partir do início dos anos 1980, contudo, o crescimento avassalador da indústria de entretenimento estadunidense se impõe em todo o mundo, ao mesmo tempo em que a economia brasileira fica estagnada por um longo período. Gibis chegavam aqui com o filme, os brinquedos e com toda uma parafernália de produtos retratando os heróis prediletos da garotada. O mundo editorial brasileiro ficou a reboque do mercado norte-americano. A vertente de quadrinho popular adulto é esmagada pela concorrência assimétrica.

A grande beneficiária das mudanças é a editora Abril. Em 1981, ela domina o mercado, detendo os direitos dos super-heróis das grandes editoras dos EUA, dos personagens Disney e Maurício, além de outros títulos. O padrão era o formatinho (13,5 X 19 cm.), com revistas muito baratas e de altas tiragens. Nessa época, título que vendesse abaixo de 40 mil exemplares era cancelado pela empresa dos Civita.

Por influência das tendências do mercado dos EUA, na segunda metade da década de 1980, aprofunda-se a mudança nos rumos editoriais do gênero no Brasil.

Gibis de luxo
A série de quatro revistas O cavaleiro das trevas, uma releitura de Batman feita pelo norte-americano Frank Miller, um autor nitidamente de direita, torna-se a marca da época, vendendo cerca de 60 mil exemplares.

O plano Collor teve um efeito devastador no mercado editorial brasileiro. Houve uma queda abrupta no poder aquisitivo da população e as vendas desabaram. As redações de quadrinhos das grandes editoras são extintas. Somado a isso, o próprio mercado internacional enfrentava novos concorrentes. A chegada de outras mídias, voltadas para o público infanto-juvenil – como jogos eletrônicos, internet, o DVD e outros – reduziu o interesse desse segmento para histórias em quadrinhos. Praticamente acabam as revistas em formatinho – a exceção são os títulos infantis – e o preço nas bancas sobe significativamente. Há uma clara opção das editoras por um público mais elitizado, o que sustenta tiragens menores, por volta de 10 a 12 mil exemplares.

Para os grandes monopólios da mídia, aos quais as editoras dos Estados Unidos estão vinculadas, o interesse maior é o de ter as revistas como ponto de venda e campos de experimentação para os filmes de ação, que vêm caracterizando a produção hollywoodiana. O paradoxo é que, apesar das fantásticas bilheterias de películas do gênero, a vendagem das revistas empacou.

Elitização do lazer
A elitização do mercado de quadrinhos acompanha uma tendência que se verifica no cinema e no teatro. Os preços dos ingressos aumentaram cerca de cinco vezes em termos reais nos últimos 30 anos, buscando uma equivalência com os valores pagos nos países ricos. Assim, a migração do leitor adulto das bancas para as livrarias, consumindo álbuns de tiragens de dois a três mil exemplares, é decorrência dessa mudança de perfil. Migração que passa por um apertado funil econômico, é bom lembrar.

Qual a saída para um público crescente, de baixo poder aquisitivo, ávido por produtos culturais? Tem sido a busca de outras mídias, especialmente músicas e filmes, que podem ser baixados da Internet ou pirateados. Os DVDs vendidos por camelôs custam exatamente o preço de uma passagem de ônibus ou metrô, a referência do gibi e do cinema de outros tempos.

Possivelmente aquele leitor de 1980, mencionado no início desta matéria, deixasse de lado as bancas e se animasse com o farto comércio informal das calçadas. E chegasse à conclusão que as cruzadas contra a pirataria são parte da elitização do mercado de entretenimento.



Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ethon avisa:

Carlos, guerreiro, vou ser direto. Até parece que quando tomas uma atitude que pode ser apreciada como "blasé", o povo se coça, mas de fato o negócio é que estou precisando publicar eletronicamente para botar a pilha nas turmas fazerem as coisas, e tudo o que reflito de mais estimulante costuma passar pelos universos quadrinísticos (re)visitados, além de ser muito fodido me pensar como leitor sem considerar seriamente as linhas da gibizada. Estou acumulando para serializar alguns textos e montar uns rolos. Fui orientado a me inserir em grupos que já tem leitores a granel, num tal de sistema de indexação. Bem antes já estava pensando em como fazer referência à blogada e outros sítios do pessoal, e quero fazer algo na linha do estilo "publicado originalmente em..." para o meu rolo eletrônico. Tua blogolândia de "Arquiteto das Sombras" tá um bicho bem curioso, né? Cheia de bem marcantes elaborações diversas e video-"curiosidades". Pena fugir da "regra #1" de regularidade na atualização, mas o importante é que está acumulando um referencial, e ao qual gostaria, inclusive, de agregar uma modesta contribuição a partir de um formato básico de 3X2páginas (cada parte da "mini-série" tendo ao menos mais de uma página) que combinaria inicializar no teu blogue por outra coisa além da linha temática que leva no título e seu registro de aldeia internacional, de um possível retorno para gente já conhecida: elaborar um ponto da minha fama que não entendi ao certo, uma espécie de imagem de ideólogo "anti-heróis-marvel-unidos". Desencavei o artigo da "métal hurlant", que mais me botou pilhas neste sentido inclusive, de entrevista com o criador de Howard the Duck, Steve Gerber, e o estou elaborando. Originalmente é só a "parte 2", mas já entorna um caldo legal para os derivativos industriosos do ramo, me apresentaria como um carinha com algum material curioso ligado, iniciaria uma experiência na manha da aranha, enquanto arrumo uma casinha de leituras canônicas e aproveitamentos temático-curriculares na área. Não deixa de ser um material do bagulho chapa-quente de barato lento da indústria e do barulho, um olhar crítico devassando os bastidores da suprema Marvel dos anos 70, mas dá algumas letras, que me esforço em não avacalhar ainda mais, a quem interessar possa. Quem sabe no próximo final de semana já me animo a te passar um algo disso aí, para tua apreciação? Graficamente tem alguma coisa bacana para acompanhar, que posso fazer escanear, é lógico. Até como início de amostras visuais disso e daquilo, quem sabe, um tempero a mais. Não digo um ingrediente para o bolo, mas um início de resposta a "o teu lugar é aqui" do Rafael Sica, uma participação mais organizada para a pilha de fazer "bolos", certo? Quanto às tuas fornadas, fico sempre num aguardo meio doidão, que tu também é phoda, nunca dá para saber com que te vais sair da próxima, vídeo, foto, reportagem, hq, opinião, indicação (tipo de leitura), tese de projeto, divulgação, o escambau. Minha torcida está bem mais previsível, a partir de meu recuo com as chorumelas waltereanas e o grande mistério de "Spectrus" (a propósito, a explanação de Steve à questão de como se produz o quadrinhos industrial versa exatamente sobre o trabalho de dialoguista ser mesmo pós-desenhos) e de sua condição estacionária (mesmo após um certo "sinal verde" de NY). Não quero nem vou melecar-me com esse "assunto" que nem é meu (e demorei tanto para visualizar). O certo é que torço para sempre teres bastante coisa para desenhar e também para desengavetar, why not?, e que o faças, decididamente, combinando bem boas coisas. Tipo "Outubro" seria e é emblemático disso, já começastes, cadê as dosagens homeopágicas, digo homeopáticas, imprimindo solução de continuidade nos rolos? De minha parte quebrei muitas resistências às diluições pretensamente alquímicas e vou aprendendo a trabalhar um pouco tipo contando regressivamente, do fim e tal. Se a vida corre, também não somos de ficar parados. Admito ter muitas travas, aos tratos com mídias, por parte do meu s ramos, ainda confusão com parceria s nele, mas tão aí minhas posições, e desta vez elas prometem: algum tipo de cadência consequente compondo nos silêncios ou rolos das porras dos barulhos, mas phoder-se é por aí que vou, por horas escassas e alternadas loucuramas desde sempre, mas dando sinaizinhos de vidas do que há por aí. Fui claro?

Lembranças à "adorável vida em família" toda, grande amplexo e até mais!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sombra


Capa da Revista Fierro ilustrada por Salvador Sanz



Amigos, boa tarde!
Tenho boas notícias...foi confirmado hoje que outro projeto em quadrinhos está se encaminhado para o forno. Sim, deliciosos quadrinhos...Falo de Sombra, uma história de Boxe. Vou deixar no suspense, em outra vida até passei informações sobre esse quadrinhos, mas aquelas informações ainda eram um brainstorm vago e o alvorecer da verdadeira aurora do Sombra se firma no horizonte com uma relação de trabalho que se confirma.
Eu que no post passado havia dito que vou me centrar nos meus projetos autorais em autônomia, também eu tinha dito que os poucos projetos em parceria iriam mudar, e mudaram.
Salvador Sanz, um dos melhores artistas da nova geração do quadrinhos argentino, assume agora os desenhos do Sombra. Um projeto que vou falar mais tarde sobre como vai ser produzido. Uma promissora parceria unindo Brasil e Argentina para uma nova marca histórica nos quadrinhos latinos.

Carlos Ferreira e Salvador Sanz.

domingo, 18 de outubro de 2009

Renasce a narrativa gráfica Outubro!


Novela Gráfica para 2012 com texto e desenhos de Carlos Ferreira

Quando eu saio da minha ordinária rotina entro em um processo de introspecção. Revejo a minha vida, as minhas decisões e tomo um novo conhecimento sobre mim mesmo. Uma nova visão surge. Eu fiz escolhas e não sei se essas foram escolhas erradas, mas a verdade é, quando desejamos ter a consciência sobre o que realmente somos precisamos adentrar na floresta negra e encarar os nossos mais crueis demônios.
Sou uma pessoa difícil, desajustada e até problematática. Mas não sou uma pessoa sem noção, ou fechada, ou alienada e raza. Sou crítico e até sarcático quando necessário. Uma coisa que tomei noção sobre o meu eu é que não há outro culpado sobre as decisões incorretas a não ser eu mesmo. E vejo que eu erro muito na forma que me relaciono com o tempo.
Tá aí um projeto antigo para quadrinhos que não me deixa mentir...falo da narrativa gráfica, ou novela gráfica chamada Outubro.
Eu concebi Outubro há dezenove anos. E só hoje eu percebo que nunca deveria ter feito o que fiz com esse argumento, assim como muitos outros argumentos...O que fiz foi passar o roteiro para uma dupla de amigos e desenhistas realizarem os desenhos dessa história em quadrinhos. Na época ( e até a duas semanas atrás) eu menti para mim mesmo que essa histórias em quadrinhos seria finalizado por essa dupla dinâmica, mas temos assuntos mais urgências para resolver nessa vida mundana e o trabalho pode ficar para o pós vida. Eu cheguei aos meus 39 anos para aprender que o fluxo de energia com o meu tempo de trabalho, com alguns argumentos e roteiros possivelmente pode ir direto para o limbo, caso essa dependência (quase química) por ter fé em outros parceiros quadrinhistas não mude. Sim, aposto fichas e mais fichas há anos na realização de dezenas de textos que escrevi para os quadrinhos e o vagabundos não desenham. Apostei mais na artes de muitos do que na minha própria por pura insegurança. Eu poderia fazer uma lista de nomes aqui, mas não é o caso. A verdade é que eu pisei na bola comigo mesmo e perdi quase duas décadas nessa fila de espera. O que hoje eu vejo como postura e realização na nona arte, com um suposto mercado e atitudes por uma gama de artistas, eu já idealizava lá no início dos anos 90. Tá aí, a Peek-a-Boo (Picabu) para comprovar.
Vou ser Arrogante com "A" maíusculo, mas talvez isso sirva para você, e para você não sirva, mas diretamente essas idéias que eu tinha sobre quadrinhos autorais possa ter influenciado você indiretamente ou não. É assim que o jogo funciona. Exemplo: O autor e amigo Rafael Sica hoje é o artista que mais me influência, não só pelo seu traço mas por sua elegência autoral de pegar com as suas próprias mãos, nanquin e pincéis e produzir sem muletas o seu universo gráfico de forma tão coerente e verdadeira. Eu quero essa energia para mim.
Outra razão das parcerias nos quadrinhos é: Sou um grande apaixonado por desenho, curto muito os desenhos que os meus amigos e que os meus supostos amigos fazem. São na maioria, gênios, e quando escrevia certos textos idealizava o visual dos seus desenhos nos meus argumentos.
Não acabo aqui com todas as minhas parcerias, mas mudo o código dessas relações. Os Sertões,como exemplo, foi um parto dolorido e houve conflitos no processo de criação entre o Rodrigo Rosa e eu, mas nunca perdemos a amizade e o respeito e concluímos o livro. Não tenho nada contra a conflito criativo, acho necessário, justo quando os artistas buscam por uma boa e honesta qualidade na obra. Foi isso o que Rosa e eu buscamos com Os Sertões. Mesmo tendo claro as nossas posições autorais no livro intervimos muito no território do outro por uma busca de maturidade na obra. É possível que outros quadrinhos venham dessa parceria, quadrinhos que tenho como autoria o argumento há 20 anos, outros mais recentes, vamos ver...
Há casos, como o projeto HQ8, que a gestação de idéias e trabalho em grupo não funcionaram por ignorâcia e egos. Isso fez o meu sangue ferver e botei a boca no trambone, acho que foi bem positivo fazer isso, aqueles que eram reacionários com as minhas idéias parecem seguir o meus dogmas, mudam do formato de estúdio industrial dos quadrinhos, para idenpedentes e recentemente abandonam essa máscara para um caminho que acho honesto...o triàngulo do poder diz ser autoral. Autores industrias é muita pós modernidade para mim. Mas...
O grupo Bestiário é um grupo naturalmente estranho e isso é ótimo... Há meses nós não conseguimos nos encontrar, mas estamos conectados e logo a Picabu 5 vai nascer...
Mas agora, estou recolhendo o que é meu, o que estava no limbo, e dando um novo sopro fazendo as brasas virarem labaredas para ver o circo pegar fogo!
Pois assim como tratavam os meus textos eu seguiria para o mesmo destino filha-da-puta com outros roteiristas quando esses me contatavam e pediam para eu ilustrar os seus textos, um infernal anel de moebius. Isso também vai mudar e as chamas vão para o céu. Luz contras as trevas!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mentes ligadas na mesma estacao de rádio!


Quadrinhos Porto Alegre, 1999- Roteiro Carlos Ferreira Desenhos Walter Pax e Jack K.


Curta escrito e dirigido por Neill Blomkamp

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Castigo!




Amanha completa 18 dias que estou em Buenos Aires, entre as diversas atividades que completo na capital da Argentina, dirigi um curta metragem: a adaptacao do quadrinhos Castigo. Esse curta trás a presenca de um ator e grande amigo Ramiro Maximilliano Coll.

sábado, 10 de outubro de 2009

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Quadrinhos?

Confesso aqui que ando em uma fase totalmente anti-quadrinhos...sim, amigos, brochei! Sigo desenhando e escrevendo, mas o meio, as funcoes, os resultados...seriamente, amigos...sim, hoje é muito mais fácil fazer, publicar uma hq, fazer com estilo, tá aí uma pá de hqs e revistas que mostram que tem coisa boa por aí. Mas o problema é o momento, senhores. O universo e o tempo, na minha visao, tem a estética de um peido pop.
Sim, estou em um momento de desajustado, até parece que figuro em um filme punk que tanto foi cultuado entre amigos, falo de Sid and Nancy...
Se podesse faria um moecano agora, várias guspidas em diversos manés, eu, carlos "bob guspi" ferreira, com uma panca e caminhadas desajeitadas. Duro e durango andando nas calles de Buenos Aires, entre classes de cine e historietas...
Sim, estoy en Buenos Aires...
Solo e pensando em muitas coisas sobre as historietas, comics e quadrinhos.
As vezes essa história de hqs lembra religiao.
Há que ter fé...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Walter Pax


Walter Pax é um hospedeiro e parasita de si mesmo. Hoje é aniversário do Walter Pax e como o prometido eu vou revelar a verdade sobre o artista. A metáfora que uso nao é uma ofensa, mas uma analise crítica e cientifica. Eu o conheco há quase duas décadas e vi o monstro se desenvolver sem deixar de ser o genio. Eu o conheci na casa do Ethon, e seus desenhos me impressionaram. Pareciam prazerosos quando eram criados, nao importavam onde eram desenhados ou o que eram desenhados, eram os donos do mundo, carismáticos e soltos. Nao foi por acaso que eles conquistavam premios em saloes e festivais de quadrinhos. Conquistavam amizades e mulheres. Sim o carisma dos desenhos do Walter tinham o mesmo charme do Walter, mas assim como os seus desenhos tinham luz um contraste nefasto descobriu o potencial das suas sombras e criaturas possuiram a partir dali a alma do Walter Pax. Eu me considero meio responsable por isso.
A maldicao comecou quando eu apresentei o roteiro “Acogueiro”. Escrevi esse texto com um subtexto, um ritual mistico com palabras secretas e alquimicas para capturar um demonio. Contei para Walter só parte da história, escondi a minha verdadeira intencao com o texto: aprisionar Brulefer, demonio dos artistas. Parte do ritual era trasmutar as palabras secretas em imagens, mas Walter subverteu algunas cenas e a merda foi feita, o demonio encontrou no corpo do Walter a sua morada e boom.

Depois desse momento comecou a decadencia, nao do artista, mas da histórias das histórias em quadrinhos gaúchas e em consequencia a historia dos quadrinhos nacionais e Mundial. Voces já repararam que uma das principias referencias dos quadrinhos mundial é um mago? Alan Moore disse recentemente 25% da industria do quadrinhos norteamericana é nutrido do seu trabalho. Em um tabuleiro do tao isso revela parte da verdade escondida nas hqs: é tudo ego.

Esses dias Mateus “Santolouco” Figueró comentou comigo que uma amizade dele perguntou que guerra é essa que rola no sul entre os quadrinhos autorais contra os industriais(super hero). Ele disse que nao rola guerra nenhuma, eu assino embaixo o tratado de paz. Também a terceira guerra mundial nao existe. Estamos o mundo inteiro em paz unidos contra a crise mundial. Crisis nas infinitas terras foi o que proliferou na cabeca do Walter Pax desde a PeekaBoo 1 até hoje. O cara literalmente comeu o pao que o diabo amassou e deu muito vomito para nos, os amigos beber, mas a amizade tambem é para isso, Ouvir o pior dos amigos. Tomar no cu pela pica de um amigo teu. E se há uma verdade sobre as amizades… fodem com todos ou a mulher de um camarada teu.
Falar sobre o artista Walter Pax é mais que necessario porque nesta época que quadrinhista quer ser tratado como rock star, ou top model, ou acha que é Michael Bay e que todo quadrinho tem que ser também filme-croma em Hollywood, faz com que farelos pensem que um porra louca (que mesmo por uma certa inveja daqueles que estao faturando uma puta grana, enquanto o cara justifica que nem tem grana para pagar as contas) só tá queimando o filme, dando um tiro no seu proprio pé. Agora nao é o momento de brigar com os fodoes que estao publicando la fora, nao por interesse, ok, mas agora é o melhor momento de estar bem pertinho desses quadrinhistas, ou melhor desse quadrinhista que tanto o Walter reclama mas que virou um Karma e viceversa. Despluguem o Walter dos seus blogs o cara tá louco!
Sim, o cara tá louco mas nao tá careta, os seus quadrinhos refletem o vazio que nao é so dele, mas de uma época, uma geracao inteira. É cru, borrado, manchas e podreira. Quem aquí suja as maos.
Os quadrinhos nao precisavam ser essa guerra inteira, uma guerra de egos, mas é o que rola aquí, hermano.
Nao defendo nenhuma parte dessa saga, mas ouvi uma frase interessante sobre o artista necessitar imperar o seu ego (na maioria das vezes ele produz para fora, mas devia produzir para o seu interior.), usar das suas armas que as vezes nao sao claras, sao amorais e nada eticas. Determinar quem merece entrar no “mercado” ou nao. Tem de tudo um pouco por ai. E como eu disse, o demonio trapaceou. Nao é casual que os tops gauchos entraram no mercado editorial dos heros. Walter tentou, mas nao entrou nessa, desviou o seu caminho para uma jornada interna, nunca completa as hqs com roteiros de outros quadrinhistas. Acredito que essa trilha do meimufado o leva a resgatar a sua alma atormentada. Walter pode ser uma pedra no rim, mas só tem um caminho, amigos. A morte. E no fim o que tu preferes, fazer quadrinhos para os donos puñeteros dos super heros, ou para si mesmo? A trilha é quem escolhe. Quem é mais feliz?
Longa vida, Walter. Para ti e os teus quadrinhos.
Te cuida!
Mas para de viajar na maionese! Aguardo uma hq porrada sem metal, seu lutador frango!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

sábado, 19 de setembro de 2009

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

sábado, 5 de setembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

terça-feira, 25 de agosto de 2009

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Menina Morango por Rodrigo Rosa


Amigos, retorno a postar mais uma capítulo da Menina Morango no blog. A demora de vermos mais um hq aqui foi que eu precisava descobrir o paradeiro dessa aventura que ganhei como presente de aniversário do meu amigão Rodrigo Rosa.
Não tinha título esse quadrinhos e acabo de batizar de "Menina Morango e Cao". Rodrigo desenhou e escreveu essa hq depois de uma vez que resolvemos os dois partir para brainstorm maluco onde escrevi e ele desenhou uma hq como se fosse tudo em um plano contínuo.
Putz, não sei se fui muito claro, mas o que eu quis dizer foi que uma vez fomos até a casa do Rodrigo e no caminho eu contava as minhas idéias para ele sobre o universo da Menina Morango. Quando chegamos na "Rosacave" iniciamos a história "Dia dos Mortos" (essa hq fecha um arco, a primeira saga da Menina Morango, nasceu antes da "Menina Morango e Cao", influenciou o Rodrigo a escrever e desenhar solo uma hq da Menina Morango e quando eu fiz 23 anos ele me deu os originais de presente. )
Reli a pouco essa "Menina Morango e Cao". Foi uma viagem ao passado. Voltei aos meus 22 anos, para as tardes ensolaradas do inverno de 92 onde vivi em um outro universo acompanhando uma sensual e maga menina com gosto de morango. Agora posto aqui e compartilho com todos a visão que o Rosa tinha desses meus delírios.

Tudo aqui no link abaixo:
http://cristinameninamorango.blogspot.com/2009/08/menina-morango-e-cao-texto-e-desenhos.html

Boa leitura.

Carlos Ferreira.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ethon e seu peculiar verbo sobre a Picabu 4:

Lançar quadrinhos é lançar marcas no tempo, por isso é tão bom juntar forças e se coordenar quando as histórias são feitas. Foi esta a realização da Peek-a-boo#4 também, mas em narrativas completas, trazendo para o desenho questões de incomunicabilidade, sob pretexto de tratar do corpo

humano, de nossos movimentos cotidianos, com linguagens ligadas aos usos tecnológicos e costumes adquiridos e/ou drasticamente perdidos, maiores enxugamentos e embaralhamentos textuais, grande diversidade (duas narrativas por autor, uma ilustração por narrativa). Questões de convívio, incidentes de percurso, coreografias e parábolas particularizando universos e universalizando traços equívocos e nem tanto assim, do princípio ao fim, entretendo aliás, imaginário eletrônico para além de bastidores e ensaios, peças de divulgação e notícias de eventos, numa interface mais condizente com as relações em curso e inserções sociais almejadas. Um dos sete integrantes do grupo participa exclusivamente com argumentos para os traços de dois colegas, Rodrigo Rosa volta às cargas d´água em tintas clássicas de humor cronista da aldeia, Fabiano Gummo agrega sua equipe em eventos por fora e entra com tudo flertando com absurdos e dando o que falar e calar, em histórias cujas ilustrações também rendem até capa do bojudinho volume que satisfaz deixando gostinho de quero mais. Outras resenhas se obrigam a contextualizar certa publicação em praças esquisitas ou advertir sobre condimentos mais picantes para as convenções de mercado, por algo que também faz lembrar de experiências maiores e desde São Paulo. Como partícipe das edições anteriores e redator de doidivanas profecias propagandistas não tenho como afetar neutralidade: finalmente cada participação é como a aquisição de um time, que ainda leva o nome Cortazareano de Bestiário, conta com Rafael Sica, Moacir Martins, uma de cujas ilustrações foi para o trono da capa e o próprio Carlos Ferreira, que carrega em tintas de climas que podem não ficar atrás dos da “Rotina na Terra das Risadas”, seu (grande) feito da edição anterior, do início dos anos de 1990 e lendas da menina morango. Não seria pela sabotagem da gráfica naquele 3o número, mas pelo desenvolvimento de estilos artísticos na parábola muda “ondas” e na adaptação de conto do Leandro Adriano revelando preferências anatômicas pouco suspeitas. Os papos da narrativa seguir muito de rolos televisivos e cinematográficos também se verifica com bandas desenhadas que nunca precisaram ficar remoendo velharias, mas vão se equacionando nos percursos independentes de projetos conseqüentemente diferenciados e crescidos, ainda que se tenha decidido manter o título oral da desbotada (por força de sabotagem, e que fique bem escuro, sim?) “revista independente” (como fomos batizados pela própria Panacéia desde São Paulo e entre outros prêmios). Nick Neves também volta, e de viagens, novos trabalhos, e nem tão novos, mas não menos brilhantes, de ilustração, artes e partes eletrônicas, para dar formas a idéias do Leandro Adriano ganhando ilustração bônus (de Moacir) e etc. Para fechar com chave de ouro (e página vermelha) o tijolinho, mais Rafael Sica. Depois de algumas risadas em terras de rotinas (poucas), um lançamento desses pode mexer com as estruturas de um desses que vos falam. Talvez faça bem. Sei lá, dessas espontaneidades de baterias de escolas que não combinam demais com seus astros para sustentá-las nas pulsações de prosas, fluentes e/ou consistentes, da linguagem em jogo, siamesa do cinema, mas filha do jornalismo com artes gráficas em busca de um bom partido estético e narrativo.

Como disse, e sem ter sido o primeiro, estou envolvido nessa até os miolos, de modo que essa acaba sendo boa candidata a uma dessas publicações mágicas cuja mera abertura já constitui verdadeiro evento na vida de um. Esperem mais um pouquinho que vou dar uma conferida nisso e aquilo. Mais um pouquinho...

Pronto. Ah, fazia tempo mesmo, e era quase conveniente estacionar ali, para dar o tempo que tivemos de dar: projeto gráfico em desenhos do Alemão Guazzelli, edição temática, arranjo de narrativas razoável com uma reimpressão aludindo a uma “geração” anterior de publicações em “Morbidez & Desejo”, encarte de contos ilustrados, anúncios conceituais (só faltava a gráfica não “pifar” nos próprios prazos e serviços). A quarta edição, quer dizer, publicação da revistinha costurando produções, esta com figuras colando as peças assombrosamente diversas numa pilha de páginas trazendo aparições de personagens misteriosos, olhos, passos, mãos, reúne olhares sobre as tosqueiras da vida com questões diversas do próprio visual, vida de fazer questão, diversa da estética do feio, mas encarando brutalidades mais chocantes que as obsolescências tecnologicamente programadas e internas aos próprios lares nossos de cada dia desses. Ah, sim, rever é preciso, curtindo os tais procedimentos de estilo, as tintas carregadas com força no P&B deste número desde a capa com direito a picadeiro estrelado e ícones sem rosto, poucas e boas letras abrindo com o chavão de John Archibald Wheeler, que esse povo dos “quadrinhos”, aliás “histórias em quadros” como se lê na mesmíssima capa, se notabiliza mesmo por ler, e publicamente manifestar o que está achando, contando ou não, de histórias, diálogos, (des)falas, em apresentação de papéis em telas por blogues para todos os lados e essa juntada dos destinos provisórios, de cenários, no que for ser a revista, de encontros e/ou desencontros? Sim, sim, rola isso por aí mesmo, por sinal minha questão na festa era justamente a respeito do processo combinativo do pretexto temático. Viagem? Na verdade, uma “equação” está sendo programada: estrada + viagem = Jornada. Algo assim, para não estragar surpresa, que uma química com liga não está fácil de achar, nem nos bolos do dia a dia. O olho mergulha, cola, derrapa, aciona memória, se emociona, dança. Até a próxima! “Em qualquer campo, descubra a coisa mais estranha e depois explore-a.” J. A.W. Ah, nem vou comentar mais o índice, que no próximo número pode ser mais “útil”, como guia para itinerâncias da leitura, mas seria parte dos rostos de que demos falta nalguns quadros de mais de um autor e ilustrador. Celebrar é preciso?

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Entrevista antiga no site Alan Moore senhor do Caos

Quadrinista CARLOS FERREIRA (Revista CAOS)

por José Carlos Neves

“Carlos Ferreira, editor do saudoso (mesmo!) fanzine Peek-a-Boo, é um quadrinista com cancha em salões Brasil afora, volta e meia conquistandoprêmios. Seu trabalho é bastante autoral, o que, no Brasil, sempre reflete em uma redução brutal de visibilidade. Ver uma história sua publicada, porém, sempre dá satisfação ao leitor.

Em Caos, sua empreitada mensal, Ferreira evoca os trabalhos mais autorias e autobiográficos de Alan Moore, como The Birth Caul, em que o aspecto simbólico toma conta da história até o sufoco do leitor. Não por acaso, um texto do criador de Do Inferno e Watchmen encerra a série. Certamente também não é coincidência a semelhança física de Cao com Carlos Ferreira.

Em casos como este, o leitor é convidado a acompanhar a trama - com uma ressalva: é preciso disposição para entrar no ambiente sinuoso da história. Como sempre, há recompensas para os bem-aventurados. A começar pela arte que, exceto no epílogo, distribui a história em quadros únicos que ocupam as páginas integralmente. O traço de Carlos Ferreira está bem fino o tempo todo, gerando um branco incomum e perturbador, que contrasta com o enredo entrevado - se a escuridão impede a visão apenas temporariamente, o excesso de luz pode cegar para sempre.”

Esta “apresentação-e-resenha-crítica” de Eduardo Nasi (também nosso Entrevistado), no inigualável site UniversoHQ, me fez interessar instantaneamente pelo material de Carlos Ferreira e contata-lo, para o “papo” que se segue.

-Vamos lá, Ferreira, hands-up e entregue: idade, onde nasceu, cresceu e vive atualmente, estado civil, filhos? Formação acadêmica e profissão?

A minha idade é trinta e três, nasci em Porto Alegre e foi aqui que cresci e vivi quase toda a minha, mas vivi uns anos em Buenos Aires, por volta de três anos. Sou casado e tenho um filho. Sou artista, formado em quadrinhos, autodidata, mas trabalho como diretor, roteirista, diretor de arte, ilustrador, músico, professor, publicitário (infelizmente já fui e às vezes sou obrigado a ser) e editor. Um verdadeiro faz tudo, um biscateiro como diz a minha mãe.

-O quê e quando iniciou seu interesse pelos Quadrinhos e Artes Plásticas em geral?

Os quadrinhos sempre de alguma forma estiveram presentes na minha vida, eu lembro da primeira revista que ganhei da minha mãe, eu tinha quatro ou três anos, passamos por uma banca de revista e pedi um revistinha do gordo e magro. Lembro que eu desenhava muito que eu via na tv, ultramen, ultraseven, naves espaciais e monstros. Mas lembro também um momento que eu tinha uma total aversão dos quadrinhos, isso com os meus dez anos. Eu odiava história de super-heróis e faroeste. Tenho as imagens na minha memória dos meus tios lendo um gibi do homem-aranha, algum gibi do Tex, um amigo que era um puta desenhista me mostrando a sua coleção de horror com a Kripta, Calafrios e Batman da Ebal. O nome desse meu amigo é Junior e ele queria transformar um outro amigo, Leandro, num super-herói. Mesmo sendo fã do desenho do homem aranha, eu odiava os quadrinhos de super-herói. Mas a coisa começou a mudar de figura com os meus treze anos, ou quartoze anos. Quando eu ia caminhado para o colégio e passava por uma banca de revista que tinha a venda à revista Espada Selvagem de Conan. Era a edição número três, com capa do Bill Sienkievicz como fiquei sabendo depois. Nessa época eu estava com um problema de saúde um pouco parecido com o da personagem Elijah do filme Um Corpo Fechado. O meu fêmur esquerdo teve uma fratura que nunca cicatrizava, tive que fazer uma cirurgia e quase perdi a perna. Comprei aquela revista do Conan com os meus treze, mas a li meses depois com quatorze não podendo caminhar direito, com dores e repousando na cama, lembro de tirar a revista debaixo da mesa da tv no meu quarto e começar a ler. O meu mundo apartir dali mudou.

-Na infância você lia muito, tanto HQ quanto Literatura mainstream? Pode citar autores e obras que o influenciaram?

Eu já tinha uma inclinação por ficção na infância. A tv era o meu elo com a arte, e a televisão na década de setenta oferecia programas mais interessantes do que hoje, mesmo que hoje tenhamos programas e série com mais qualidades técnicas e dinheiro, naquela época ainda experimentavam mais e por isso eram mais criativos. Hoje olhamos parte desses programas e os achamos ingênuos, mas se deixássemos de lado as limitações dessas séries, veriam que cada uma tinha uma identidade muito própria. Lembra do Túnel do Tempo? O Homem de Seis Milhões de Dólares? Além da Imaginação? Kung Fu? Patrulha Estelar? James West? Johnny Quest? E vai pedrada...

Eu também vi muitos filmes clássicos na tv, Hichtcock, filmes do John Ford, Roman Polanski, filmes Noir, terror e outras maravilhas. A tv foi uma das maiores escolas para narrativa e enquadramento. Inacreditável como o nível hoje caiu. Podia se tirar muito proveito com dois ou três canais, mas hoje esse veículo realmente é burro. O cinema era um luxo para mim, vi Super-Homem, Império Contra Ataca e mais coisas...

A literatura nasceu depois dos quadrinhos, eu já lia o Demolidor de Frank Miller na Revista Super Aventura Marvel, o que eu gostava nos quadrinhos era o que para mim, era cinema no papel. Frank Miller, John Buscema, John Byrne passavam essa atmosfera. Lendo esses autores eu queria saber o que se passava na cabeça deles e como aprenderam a desenvolver as suas narrativas, quais eram as suas influências e como surgiram.

Eu já tinha dezesseis anos quando me recuperei da minha perna e fiz novos amigos que por coincidência também gostavam de quadrinhos. Esses amigos são Trein e Drégus. Nesta fase começou a aprendizagem de ler muita literatura principalmente Raymond Chandler, Poe, Lovecraft e Borges. As obras que me influenciaram foram O Longo Adeus, Histórias Extraordinárias, Um Sussurro nas Trevas e O Aleph.

-Conte nos a gênese da CAOS,suas motivações , repercussão...

A CAOS nasceu de uma necessidade enorme de eu querer me encontrar. Acho que no período antes do CAOS eu estava dentro de um vórtice e sem controle sobre a minha vida. As coisas e confusões aconteciam. Uma chuva de eventos me empurrava há um descontrole sobre as minhas decisões e práticas. Eu provoquei muitos acidentes e deturpei muitos relacionamentos sem intenção direta. A base dos quadrinhos que eu faço tem como nascença a minha vida dos meus dezoito anos aos trinta e poucos. CAOS se passa quando eu tinha vinte nove. Eu desenhava uma seqüência inspirada na série Millennium, Frank Black (Will Black) sendo atacado por dragões imaginários enquanto dirigia. Essa seqüência não existia na série, mas eu queria aprofundar de alguma forma na personagem. Tudo por que eu identificava coisas minhas na personagem. A vida da personagem tinha muitos nós, era como eu via a minha. E quem fez esses nós seria uma força invisível dotada de consciência. Eu queria ver essa força, eu queria identificar os seus movimentos e interagir com ela. Provoquei uma série de eventos e fui ludibriado. Precisei expor tudo na CAOS, que não é um relato literal mas é um registro do que tudo aquilo significou para mim.

-Você se interessa, além da curiosidade, pela fascinante Teoria do Caos, seus fractais e grande potencial criativo?

Eu tenho um interesse na Teoria do Caos e o que ele gera. É tudo mais Caos do que ordem na minha opinião. O fato de eu estar aqui falando sobre o Caos, devido a uma história chamada Caos, há um site com nome de O Senhor do Caos é a própria comprovação do Caos.

-Quais obras (quadrinhos, literárias, cinema) que julga melhor ter aplicado o Caos como metáfora?

Na literatura o que vem na minha cabeça agora é o conto Aleph, do Borges. Nos quadrinhos adaptação da Cidade de Vidro por Mazzuchelli. No cinema falamos do ¶, do Darren Aranafosky. Hoje são desses que falo, mas amanhã eu poderia citar outros nomes.

-Fale-nos sobre os contos e arte relacionados ao Caos que esse fanzine publica. Como você “recruta” os autores e seleciona o material? – baseado em que requisito?

A maior parte das colaborações na CAOS foi pedida por mim aos amigos que já conheciam o Universo Ferreteria. Walter Pax é a colaboração mais ativa por que somos vizinhos e conversamos muitos sobre a CAOS, tem até um sonho que ele teve comigo ilustrado ali. Mateus é outro que esteve acompanhando o projeto, eu pedi para ele desenhar um demônio saindo da tv, depois ele desenhou o próprio Frank Black. O Scott leu os dois primeiros e pediu para colocar um conto, foi total produto do acaso eu gostei disso foi o único conto e é bem Scott. Tem um desenho do meu sobrinho que é o primeiro desenho dele publicado, estou falando de um desenho do Gabriel Ferreira, esse ainda vai contar muitas histórias. O Mena me enviou uma colaboração depois de ter lido os três primeiros. O Moacir quis brincar de ser Carlos Ferreira é obvio que sempre ele vai ser Moacir Martins. O Pilla me presenteou com um desenho e eu publiquei. O mesmo aconteceu com a Roberta. Do Daniel eu tinha aqueles postais há anos e enquanto eu rodava as CAOS olhava esses desenhos e via que, sem querer, eram dentro do universo da série. William Blake era indispensável. Todos expressaram livres, sem uma orientação de como seguir nos seus estilos. Eu gosto das diferenças e divergências gráficas que estão ali marcadas.

-O que você tem feito atualmente no gênero? Quais seus novos projetos?

Bom, eu tenho feito diversas coisas. Tenho desenhado páginas de diferentes histórias e me decidido para qual vou seguir com mais velocidade. Estou desenvolvendo histórias curtas e longas. Estou revendo antigos roteiros e arquitetando uma linha de produção mais rápida. Vou lançar um livro de contos, que de certa forma é uma continuação do Caos, estou na pré de um longa em digital que também quero fazer uma versão em quadrinhos. Estão todas essas histórias relacionadas com o Caos.

-O que é mesmo a “Ferreteria Quadrinhos”, sua própria Editora? Partiu para a “auto-publicação” por opção ou por desinteresse das outras editoras?

Sim, a Ferreteria Quadrinhos é a minha própria editora. Sou muito dominador do que eu faço, tenho uma postura bem objetiva sobre como quero e o que eu quero. Ter uma outra editora interessada em publicar as minhas histórias é algo que até já tá em negociação. Mas eu tenho muito prazer em editar. Gosto de provocar o objeto como uma revista ou um livro e ver ele virar matéria, se divulgar e circular pelo mundo.

-Porque você parou com o seu famoso “Peek-a-Boo”? O que de melhor, ao seu ver, esse zine publicou? E porquê?

A Peek-a-Boo parou por discordância e preguiça. Foi como uma banda que tinha um gás e energia para fazer rock. Nós queríamos provocar, mudar o mundo contando histórias em quadrinhos. O time era bem bacana Walter Pax e Jack Kaminski, Rodrigo Rosa, Fábio Zimbres, Leandro Adriano, Eloar Guazzelli, Ethon Fonseca e outros. Nós tínhamos os fixos e os convidados e a cada número elaborávamos temáticas, mas esses temas tinham que aparecer sutis. O primeiro era sobre crimes, o segundo sobre realismo mágico, o terceiro sobre amor e morte. Essas histórias não se encaminhavam para gêneros comuns. Eram todas muito climáticas e algumas de humor negro. Foi uma trilogia impressa. Acabamos ganhado uma admiração de fãs e somos considerados um clássico. Acho isso muito engraçado por que vejo os limites e defeitos na Peek, mas a energia de rock estava lá era bacana. Hoje eu teria condições técnicas para o retorno da Peek, mas não sei.

-O que você acompanha em Quadrinhos hoje?

Eu acompanho algumas coisas, sou compulsivo com os quadrinhos. Dos quadrinhos industriais, gosto do selo Vertigo, mas a minha batida é buscar autores, não importa se são em fanzine, internet, álbuns ou revistas. Eu também tenho o hábito da releitura. Estou sempre relendo Corto Maltese do Hugo Pratt, Allack Sinner do Sampayo e Muñoz, Mort Cinder do Osterheld e Breccia que são os meus preferidos.

-Você sabe que neste site, tudo praticamente gira em torno do cultuado autor e roteirista inglês Alan Moore. Que ele foi o criador da obra From Hell , para os Quadrinhos, depois desperdiçada por Hollywood. E que ele,” para vencer a crise existencial dos 40 anos”, resolveu se tornar um mago. Estudou muito Aleister Crowley, Austin Osman Spare, participou de experiências e acontecimentos no mínimo “fora-do-script”, como ele gosta de descreve-los. Voce acredita na Magia, na Cabala e outros desdobramentos, ou tenta também - como o James Randi tupiniquim, Padre Oscar Quevedo - "explicar tudo à luz da Parapsicologia" ?

Eu sou meio Molder (Arquivo-X), Dale Cooper (Twin Peaks), Frank Black (Millennium). Deixo vivo o meu lado Peter Pan. Tenho mente aberta e levo a minha sensibilidade em relação ao mundo muito a sério, mas sou totalmente cético a certas convenções, terminologias, e religiões.

-O que você pensa da Magia? Lê a respeito? Acredita nos seus “efeitos práticos”, na “sigilização”, por exemplo?

O que eu penso sobre Magia, é que a realidade é andar na calçada, magia é caminhar do meio da rua e ser sujeito a um atropelamento. Leio algumas coisas, geralmente ensaios mais antropológicos. Eu acredito no efeito disto na mente de todos e somos todos loucos. Isso traz uma certa conseqüência real. Afinal, a realidade é o que está na cabeça de cada um. Às vezes essa realidade pode ser bem distorcida é o que acontece na cabeça do Bush, por exemplo.

-Quando foi seu primeiro contato com o trabalho de Alan Moore e qual obra lhe causou algum impacto especial?

O meu primeiro contato com Alan Moore veio de uma conversação sobre um roteiro que eu tinha escrito e mostrado ao Drégus. Eu contei para Drégus algumas idéias que eu tinha para quadrinhos e o tipo de histórias que eu queria contar. Drégus dizia que não tinha mais como contar histórias novas de Horror. Era um gênero acabado, isso era por volta de 1886. Mas o que ele leu no roteiro que tinha escrito o deixou perturbado. Tu escreve histórias muito estranhas. Da onde tu tira isso?¨, ele me dizia com uma cara de assustado. A segunda opinião dele foi com uma ligação dizendo que eu deveria ler uma hq que ele tinha acabado de ler, era Lição de Anatomia, a primeira história do Monstro do Pântano. Eu não parei de ler Moore. Sem dúvida é um dos autores que mais gosto. Watchmen, V for Vendetta, Miracleman estão bem enraizadas dentro de mim. Eu aprendi muitas coisas lendo essas obras, coisas que transcende aos quadrinhos e se refletem na minha relação com o mundo. Do Inferno para mim, é a obra perfeita. Lembro que eu tinha terminado de escrever e desenhar a CAOS e comprei os tomos publicados pela Via Lettera. Eu li tudo de uma vez só e senti uma certa conexão com a CAOS. Tem muitos elementos próximos. Não quero me comparar a Moore, mas tenho alguns hábitos parecidos com ele. Quero provocar, contar uma história, evocar a memória do inconsciente coletivo, tocar na ferida e expurgar a mentira que nos colocam goela abaixo com a política cultural. Quando falo política cultural isso engloba a tudo, tudo é política. Religião, arte, relações humanas e etc.

-Qual trabalho do mago bardo de Northampton que você considera sua obra-prima e porquê?

A obra prima do Moore na minha opinião é a própria vida dele, vai parecer até fanatismo da minha parte... Eu não sei se Cristo existiu, mas Alan Moore sim, e esse está fazendo milagres. Ele está costurando um mundo que já se foi (rodeado de mitos e idéias mais desenvolvidas sobre o homem e o seu papel no universo) com cultura pop. Essa é a magia de Moore, transmutar a força da mitologia primitiva em modernidade. Através das suas obras se pode enxergar muito além do que nos é permitido.

-Ao seu ver, quais foram as inovações mais importantes do autor? Especificamente sobre Watchmen e sua instigante forma narrativa – já apelidada de O Cidadão Kane da Nona Arte – o que tem a nos dizer?

Antes de qualquer inovação técnica que veio com a obra do Moore, eu vejo a inovação humana. O comportamento e a moral de Moore é uma inovação ao mundo. Ele é um dos poucos senhores íntegros do planeta, é uma pena não termos na presidência desses paísinhos ricos. Eu prefiro ter um cara cheio de haxixe na cabeça, do que merda e uma curra mal resolvida do pai o que deve explicar o Bush. Mas da sua forma, Moore vai comandando o mundo.

-Você acha que ainda existe espaço para seres musculosos e com super-poderes, metidos em colantes, na verdadeira Cultura Pop, mais madura? Pergunto porque muitos fãs dos super-heróis, ao mesmo tempo que admiram Alan Moore, o detestam por considerar que ele praticamente destruiu o gênero com Watchmen. E você?

Cara, eu não sei o que pensar desses super-heróis. Sei que eles são ridículos e isso pode gerar muita carta na manga. Eu adoraria ser pago por essas megas editoras e ajudar ainda destruir mais esse gênero. Vejamos por um lado, tu sairia com uma capa, máscara e cuecas para bater na malandragem? Mas se tivesse a capacidade de voar e ficar invisível não seria uma maravilha? O que eu gosto neste tipo de quadrinhos é o flerte com o gênero fantástico. Mas a moral do bem contra o mal não é comigo. Principalmente essa histeria estranha por corpos musculosos e armas. Eu acho isso muito gay. É aí onde extravasa que o mundo é gay. Acho que isso é de um apelo sexual bem básico. Eu tenho um amigo que era fã do Conan e fã de heavy metal, ele tinha toda aquela pose representada nesse estilo. Musculoso, com cabelos compridos e couro. Em algum momento o cara entendeu o subtexto disso tudo e evolui. Aceitou a atração que tinha por tudo aquilo e por outros homens, aceitou que há uma supervalorização sexual e que precisava disso. De enrustido, inteligentemente aceitou sua opção sexual e não lê mais o Conan. Faz parte do pacote que é vendido nos super-heróis. Não são sós as mulheres peitudas vendem, são homens de cuecas com super sacos a maior quantidade produzida e vendida.

-E From Hell, você acha que Moore conseguiu atingir plenamente seu intento de forjar em uma HQ o caldeirão que nos preparou o Século XX, com toda sua paranóia, conspirações, contradições, horror e beleza?

Eu acho que todos os objetivos de Moore estão bem estruturados ali. O principal dele é contar uma história, contar o que ainda não tinha sido contado e contar bem contado. É isso que um escritor busca. É um dialogo entre o escritor e obra, onde uma platéia (que é o público) acompanha e é transformada com aquilo. Isso acontece com Do Inferno.

-O que pensa da Magia?

Eu penso que às vezes deveríamos esquecer palavras como magia, Deus e poderes ocultos. Deveríamos pensar mais sobre relação, solidão e limites. Buscar entender o significado dessas palavras. Depois se movimentar no mundo e praticar o que pode ser praticado com elas. Nós porcamente nos relacionamos, não admitimos que estamos sós e não aceitamos que temos limites. Isso para mim tem mais substância. Antes de querer ficar invisível e voar. Eu quero saber quem sou e o que sou.

-Mas, ainda nesta direção metafísica, qual é a sua concepção do Tempo? Considera-o a Quarta Dimensão do Espaço, como teorizou Einstein ou tem outra visão?

O tempo é o que também sou. O tempo é a minha memória.

-Como você imaginaria um ser da 4ª dimensão se pudesse ser visualizado por nossos sentidos tridimensionais (ou seja, da mesma forma que representamos num papel, uma superfície bidimensional, um objeto de três dimensões, ao desenharmos um cubo em perspectiva)?

Imagino que esses seres seriam todas as nossas fantasias. Nós redigimos o mundo deles, eles o nosso.

-Você chegou a ler aquela que seria a magnum-opus de Moore, BIG NUMBERS, pela qual sou absolutamente fissurado (que o digam os inúmeros Artigos neste site)? Em caso afirmativo, o que pensa que Alan Moore tentaria “dizer” com esta obra seminal?

Moore mostra nessa série que estamos todos interligados, somos todos um organismo vivo. O padrão de uma consciência. O caos.

-Voltando à sua produção, o quê você fez que considera o melhor até agora?

Caos é o mais parecido comigo. O mais próximo com o que virá.

-Você é indubitavelmente, um dos batalhadores por um autêntico Quadrinho nacional. Ele existe?

Eu acredito que sim. Aqui no Brasil nós fazemos um tipo de quadrinhos que eu não sei se existe no restante do mundo. Vejamos os americanos, por exemplo, eles como trabalhadores são sérios e profissionais, mas ao meu ver o que é produzido é frio e duro. Há exemplos de gênios e momentos na história dos quadrinhos



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americanos excepcionais, com produção autoral com A maiúscula, é o caso de Will Eisner, Robert Crumb, Frank Miller, Daniel Clowells, David Mazzuchelli e outros. Mas essa forte indústria caminha contra. Eles não saem desse bosta de universo de super-heróis! Chega, gente. Vamos deixar as cuecas de lado e incutir o terror! No Japão eu acho que existem coisas mais interessantes, muito do que não é exposto nos quadrinhos americanos, como sexualidade, certos tipos de conflitos, personagens mais humanos são visto em alguns quadrinhos, como é o caso de Evangelion, mas esse mercado também tem os seus baixos devido a grande produção.
O que acho que vou aprendendo no decorrer da minha carreira é que nos países como o Brasil existe um tipo de produção pioneira, uma devoção de poucos que vão lapidando um estilo que é seja miserável, morra de fome, mas faça quadrinhos. Fazer quadrinhos aqui, na América Latina, nos países pobres é ter uma puta devoção a arte. Eu sou narrador, um contador de história, não me importa se desenho bem o mal, se escrevo bem o mal, sou um doente, um compulsivo por histórias. Dedico a minha existência a ver, ouvir e criar narrativas pode ser num conto, numa hq, ou em um filme.

-O que você acha que dificulta para o quadrinista brasileiro sobreviver de sua arte? Falta de talento ou de mercado?

O que não existe no Brasil é indústria de quadrinhos. O mais próximo que estamos disso é a turma da Mônica, não temos DC, Marvel e Walt Disney. Mas há mercado se estamos aqui conversando sobre quadrinhos nacionais é por que há um mercado. Eu já comprei quadrinhos nacionais, tu já compraste. Muitos que estão aqui lendo já compraram. Mas é um tipo de mercado comparável ao mercado de drogas, eu sou um viciado por quadrinhos. Quem compra o quadrinho nacional é um viciado por quadrinhos. O que falta é legalizar esse mercado. Quem produz profissionalmente quadrinhos neste país é quase visto como marginal, eu não digo que pelo meio, mas pelo que está fora do meio. Quem compra quadrinhos também meio que se esconde. Só que todo mundo quer ver o Homem-Aranha no cinema.

-Como um profissional, também considera que o nosso artista “se vende” quando passa a publicar no Exterior, nos EUA principalmente, adequando-se ao estilo e mudando até mesmo de nome?

Eu também quero se comprado pelas editoras. Principalmente a Vertigo, mas trocar o nome e adequar o meu estilo, não obrigado! Custou-me muito ter o estilo que tenho, a postura que eu tenho, maturidade que ainda busco. Ser autor de quadrinhos foi uma opção de estilo de vida e filosofia. Quando narro uma história estou sempre atento aos erros e acertos, imprimo um senso de autocrítica e tento dar uma forte personalidade no que estou produzindo, imagina um mané chegando e dizendo: olha acho que essas mãos poderiam estar mais dramática, quem sabem tu deixa o peito dele mais grande, mais Jim Lee, Alex Ross, ou Marc Falrane. Pica! É o que eu diria. Quem sabe tu muda o teu nome de Carlos Ferreira para Charles Ferreira. Hahahaha! É a minha resposta.

-Ainda nesta área, conhece e o que acha do trabalho de Mike Deodato, atual campeão no desenho de super-heróis emblemáticos, da Marvel/DC?

O Deodato Borges Filho, mais conhecido como Mike Deodato. Impressionavam-me muito na sua fase brasileira, já as fases americanas eu estou aguardando para ver o seu Hulk que me parece uma busca por uma identidade própria, sem os clichês americanos.

-E os artistas brasileiros da “velha guarda” como Jayme Cortez, Ignácio Justo , Walmir Amaral, Salatiel de Holanda, Igayara, Colin, Shima, Edmundo Rodrigues, conheceu o trabalho deles?

Colin é o que tenho maior admiração e respeito. Eu sou um grande fã dele é o nosso Hugo Pratt.

E a “geração Vecchi/Grafipar? (Franco, Rodval Matias, Mozart Couto, Watson Portela, Cláudio Seto, Olendino e tantos outros)?

Mozart Couto foi o primeiro autor brasileiro que eu comprei. Eu gostaria muito de escrever um roteiro para ele.

-Você concorda que, depois de uma onda iniciada, ao meu ver, na Image, o desenho de super-heróis tem optado por uma arte mais realista – em termos de visual e não de temática.Melhor explicando: seres de músculos anabolizados impossíveis não são realistas. Mas sua representação no papel, quase sempre iluminados por no mínimo duas fontes de luz – uma mais forte e no lado oposto a esta, outra mais fraca, ou de luz rebatida, torna as figuras mais realistas, mais tridimensionais, se me entende – como faz Dale Keown e principalmente o italiano Paolo “Druuna”Serpieri. Concorda que existe esta tendência?

Eu não acompanho muito esse quadrinho, há quadrinhos bacanas na Image que infelizmente não estão saindo no Brasil. São histórias bem diferentes nos desenhos e textos. Sobre o realismo nos quadrinhos de super-heróis, eu acho impossível de existir textualmente, mas existem uns desenhistas realistas que eu curto, o Mike Allred é um exemplo. Tem um puta domínio de anatomia e naturalismo.

-O que você pensa do desenho anatômico do italiano Paolo Eleuteri Serpieri, criador da voluptuosa Druuna, principalmente em termos do uso da iluminação bi-lateral que ele faz e também de sua arte-final em traços cruzados, de diversas formas, para interpretar os vários tons de sombreamento no desenho?

Eu sei que é uma puta gostosa a dona desenhada, mas esse não é o meu tipo de quadrinhos. São desenhos superbem trabalhados e tal, mas falta uma energia e verdade ali. É um desenho para consumir punhetas, mas a minha batida vai, além disso. Sou mais o despertar das mentes adormecidas!

-Quais dos nossos autores e artistas você julga mais em condições de produzir uma obra de fôlego?

Tenho admirado o trabalho do nosso Carl Barks, André Diniz. Samuel Cassal, Rodrigo Rosa, Vinícius Martins. Lourenço Muttarelli é um autor que deveria ser exemplo para muitos. Fabio Zimbres é sempre bom. E Guilherme Pilla.

-E nas Artes Plásticas em geral, qual dos trabalhos que tem visto – HQs, ilustrações, esculturas, maquetes, etc - julga o melhor ou pelo menos promissor? Acha que temos um mercado para esta delimitada forma de Arte?

Guilherme Pilla, Rodrigo Rosa o grupo Upgrade do Macaco. Um é Artista Plástico, o outro é ilustrador e o grupo é um evento gráfico místico e urbano aqui de Porto Alegre.

-E você, o que tem feito em termos de Pintura? Quais os “salões” eu participou, premiações...?

Pintar ainda é um mistério para mim. Eu gosto de acrílica e aquarela, mas pinto muito pouco. Já participei de vários Salões como Piracicaba, Desenho de imprensa de Porto Alegre, Piauí e outros que não vou lembrar os nomes e locais.

-Como o leitor interessado pode adquirir seus Quadrinhos e quadros, quais os que estão disponíveis?

É só mandar um e-mail para ferreteria@brturbo.com e pedir a CAOS. Logo vou começar divulgar as próximas edições da Ferreteria.

-Experiências até do Pentágono, comprovaram a eficácia expressiva dos Quadrinhos em transmitir qualquer idéia por atingir, através do somatório sinérgico de imagens com texto, os dois hemisférios cerebrais. Será isto talvez que explique o grande sucesso do gênero nos paises do Oriente (China, Japão,Coréia principalmente), já que seus alfabetos ideogramáticos (os caracteres representam imagens e não sons) têm o mesmo efeito? Conhece algum estudo abalizado sobre o assunto? – a propósito e exemplificando, vários manuais de utilização e manutenção de armamentos e equipamentos militares, e ate´ uma certa “cartilha de ação guerrilheira” em “republiquetas latino-americanas” da CIA são produzidos justamente em forma de Histórias em Quadrinhos.

É o quadrinho o que move o mundo. Os cinemas, por exemplo, já não sobrevivem sem adaptações dos quadrinhos.

-Acha que as chamadas artes populares e de entretenimento, como o Cinema e os Quadrinhos, tem também esta capacidade de, através de seu experimentalismo formal, metalinguagem e outros recursos estilísticos, mas sobretudo de conteúdo humano, que realmente nos enleve, nos atingir em cheio como as obras literárias ? Pode mencionar exemplos?

A arte quando é real como arte nos constrói. É o que aconteceu comigo, sou o resultado de somas literárias, cinematográficas, quadrinhística. Sou filho de Hugo Pratt, Alan Moore, Muñoz, Orson Wells, David Lynch e Jorge Luis Borges. São ideais dessas personalidades e outras que me fizeram a buscar a minha perspectiva e as minhas próprias idéias não só como artista, mas como ser humano.

-Aproveitando a deixa, o que você achou de “Cidade de Deus” em termos formais e também no retratamento de uma realidade cruel, sim, mas que representa apenas uma das miríades de facetas de nossa realidade?

Eu só consigo ver o filme Cidade de Deus o que ele é, um filme de um apaixonado por cinema. É um western, um filme de gangster, uma reinvenção do cinema. Nós brasileiros também somos bons contadores de histórias, ou melhor não existe essa fronteira na arte, não existe uma geografia de mapa. Que é um bom contador é um bom contador, um bom filme é um bom filme. Agora eu não poderia analisar os aspectos sócias do filme por que não me cabe como artista.

-Retornando a temas mais filosóficos, que você acha que é a consciência em si?

A consciência em si é uma reunião inconsciente de muitas consciências que revelam uma única consciência em padrões infinitos.

-E a Inteligência Artificial, que tem tantos apologistas, como você acha que um córtex artificialmente criado – ainda que orgânico – pode desenvolver uma “consciência” digamos assim, como querem muitos autores de ficção?

Na série Matrix perderam a chance de contar algo com proporções de Kubrick. Era para o Neo despertar no final descobrindo ser uma inteligência artificial que vai ser a Matrix. Mas não rolou. Uma Inteligência Artificial teria que sonhar, reinterpretar o mundo para depois viver nele.

-O que acontece com a consciência após a morte?

Eu nunca poderia responder essa pergunta. Eu ainda não sei.

-Quais foram os eventos mais importantes que já ocorreram em sua vida?

Nascer, descobrir o desenho, quase perder a perna, optar ser um artista, me apaixonar involuntariamente, a morte do meu avô, dirigir filmes, o nascimento do meu filho, a morte do meu pai e beber o Ayhuaska.

-Qual foi a experiência mais louca que você já experimentou na vida?

Tomar um lsd e andar pelas ruas da Porto Alegre.

-Qual foi o sonho mais louco que você já teve?

Sonhei uma vez que eu era o um minotauro.

-E atualmente, o que lhe é realmente imprescindível, seminal?

Continuar vivo.

-Quais sites da web você visita com freqüência?

Blog de desenho, Marca Diabo e Universohq e agora o Alan Moore Senhor do Caos.

-Quase finalizando, o que tem a dizer sobre nosso modesto site, criticas e sugestões para aperfeiçoá-lo?

Digo-te para continuar a buscar respostas nessas investigações metafísicas e que vou acompanhar a tua busca pela verdade. É bom, ver que tu filtra isso com os quadrinhos. Longa vida ao teu site e para ti. Abraços.

-Obrigado, Amigo.