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Novela Gráfica para 2012 com texto e desenhos de Carlos Ferreira
Quando eu saio da minha ordinária rotina entro em um processo de introspecção. Revejo a minha vida, as minhas decisões e tomo um novo conhecimento sobre mim mesmo. Uma nova visão surge. Eu fiz escolhas e não sei se essas foram escolhas erradas, mas a verdade é, quando desejamos ter a consciência sobre o que realmente somos precisamos adentrar na floresta negra e encarar os nossos mais crueis demônios.
Sou uma pessoa difícil, desajustada e até problematática. Mas não sou uma pessoa sem noção, ou fechada, ou alienada e raza. Sou crítico e até sarcático quando necessário. Uma coisa que tomei noção sobre o meu eu é que não há outro culpado sobre as decisões incorretas a não ser eu mesmo. E vejo que eu erro muito na forma que me relaciono com o tempo.
Tá aí um projeto antigo para quadrinhos que não me deixa mentir...falo da narrativa gráfica, ou novela gráfica chamada Outubro.
Eu concebi Outubro há dezenove anos. E só hoje eu percebo que nunca deveria ter feito o que fiz com esse argumento, assim como muitos outros argumentos...O que fiz foi passar o roteiro para uma dupla de amigos e desenhistas realizarem os desenhos dessa história em quadrinhos. Na época ( e até a duas semanas atrás) eu menti para mim mesmo que essa histórias em quadrinhos seria finalizado por essa dupla dinâmica, mas temos assuntos mais urgências para resolver nessa vida mundana e o trabalho pode ficar para o pós vida. Eu cheguei aos meus 39 anos para aprender que o fluxo de energia com o meu tempo de trabalho, com alguns argumentos e roteiros possivelmente pode ir direto para o limbo, caso essa dependência (quase química) por ter fé em outros parceiros quadrinhistas não mude. Sim, aposto fichas e mais fichas há anos na realização de dezenas de textos que escrevi para os quadrinhos e o vagabundos não desenham. Apostei mais na artes de muitos do que na minha própria por pura insegurança. Eu poderia fazer uma lista de nomes aqui, mas não é o caso. A verdade é que eu pisei na bola comigo mesmo e perdi quase duas décadas nessa fila de espera. O que hoje eu vejo como postura e realização na nona arte, com um suposto mercado e atitudes por uma gama de artistas, eu já idealizava lá no início dos anos 90. Tá aí, a Peek-a-Boo (Picabu) para comprovar.
Vou ser Arrogante com "A" maíusculo, mas talvez isso sirva para você, e para você não sirva, mas diretamente essas idéias que eu tinha sobre quadrinhos autorais possa ter influenciado você indiretamente ou não. É assim que o jogo funciona. Exemplo: O autor e amigo Rafael Sica hoje é o artista que mais me influência, não só pelo seu traço mas por sua elegência autoral de pegar com as suas próprias mãos, nanquin e pincéis e produzir sem muletas o seu universo gráfico de forma tão coerente e verdadeira. Eu quero essa energia para mim.
Outra razão das parcerias nos quadrinhos é: Sou um grande apaixonado por desenho, curto muito os desenhos que os meus amigos e que os meus supostos amigos fazem. São na maioria, gênios, e quando escrevia certos textos idealizava o visual dos seus desenhos nos meus argumentos.
Não acabo aqui com todas as minhas parcerias, mas mudo o código dessas relações. Os Sertões,como exemplo, foi um parto dolorido e houve conflitos no processo de criação entre o Rodrigo Rosa e eu, mas nunca perdemos a amizade e o respeito e concluímos o livro. Não tenho nada contra a conflito criativo, acho necessário, justo quando os artistas buscam por uma boa e honesta qualidade na obra. Foi isso o que Rosa e eu buscamos com Os Sertões. Mesmo tendo claro as nossas posições autorais no livro intervimos muito no território do outro por uma busca de maturidade na obra. É possível que outros quadrinhos venham dessa parceria, quadrinhos que tenho como autoria o argumento há 20 anos, outros mais recentes, vamos ver...
Há casos, como o projeto HQ8, que a gestação de idéias e trabalho em grupo não funcionaram por ignorâcia e egos. Isso fez o meu sangue ferver e botei a boca no trambone, acho que foi bem positivo fazer isso, aqueles que eram reacionários com as minhas idéias parecem seguir o meus dogmas, mudam do formato de estúdio industrial dos quadrinhos, para idenpedentes e recentemente abandonam essa máscara para um caminho que acho honesto...o triàngulo do poder diz ser autoral. Autores industrias é muita pós modernidade para mim. Mas...
O grupo Bestiário é um grupo naturalmente estranho e isso é ótimo... Há meses nós não conseguimos nos encontrar, mas estamos conectados e logo a Picabu 5 vai nascer...
Mas agora, estou recolhendo o que é meu, o que estava no limbo, e dando um novo sopro fazendo as brasas virarem labaredas para ver o circo pegar fogo!
Pois assim como tratavam os meus textos eu seguiria para o mesmo destino filha-da-puta com outros roteiristas quando esses me contatavam e pediam para eu ilustrar os seus textos, um infernal anel de moebius. Isso também vai mudar e as chamas vão para o céu. Luz contras as trevas!