Lembro que nos anos oitenta as histórias em quadrinhos era realmente um poder. Não que hoje elas não sejam um poder. Os quadrinhos hoje são, mas talvez a sua força hoje seja mais vinculada como um produto de venda, ou merchandising. No século XXI o interesse dos investidores nas histórias em quadrinhos está na transposição dessa arte, a chamada nona arte, para o cinema, a sétima arte. Seria um trampolim os quadrinhos? Nos anos oitenta sonhávamos em ver Batman, X-men ( na época a pronuncia era chismem), Ronin, e outros nas telonas. Tínhamos só o Superman de Richard Donner, a chinela adaptação do Homem-Aranha, Flash Gordon, um tosco telefilme do Capitão América e o seriado de tv do Incrível Hulk. Mas filme bom entre esses? Nenhum. Talvez Superman, mas esse arranha em alguns momentos, tenho um grande carinho por esse filme por que foi com ele que o meu interesse por cinema começou. Acontece que hoje os quadrinhos se convertem para o cinema e isso já é uma fábula sobre cifrões na cabeça de alguns quadrinhistas.
Antes, até os anos oitenta, neguinho que queria fazer quadrinhos queria era fazer quadrinhos, desenhar, contar uma história, criar o seu estilo. Existiam revistas de “poderosa” fonte de expressão e estilos. Entre essas revistas estava a Fierro. Quem aqui conheceu a Fierro levanta o dedo! O poder de antigamente era fazer quadrinhos para os quadrinhos, nos quadrinhos e sendo apenas uma história em quadrinhos. A “ Fierro” era uma revista que produzia isso de uma forma magistral. A Fierro foi uma revista criada na argentina pelo director editorial gênio louco André Cascioli. Eram colaboradores Carlos Nine, Alberto Breccia, Henrique Breccia, Fontanarossa, Sampayo e Muñoz, Cacho Mandrafina, Carlos Trillo, Hugo Pratt, Horácio Altuna e muitos outros gênios. Juro! Não é mentira minha! Essa revista existiu. Foi uma revista onde todos que faziam quadrinhos sonhavam em publicar naquelas páginas portenhas. Um sonho muito diferente de hoje, onde a maioria sonha em publicar nas editoras de super-heróis, fazer muita grana e quem sabe depois ver a sua visão ser adaptada pelo Michael Bay. Outro sonho que existia na época era fazer revistas nos moldes da Fierro e diversas revistas surgiram com a Fierro como referência. O que chamava a minha atenção era o teor original, adulto e autoral das histórias impressas na Fierro. Era uma revista com um estilo gráfico único. As suas capas, com texturas de metais enferrujados, eram todas coloridas a mão. Muito antes dessa prática e preguiçosa invenção da cor digital. Uma outra coisa interessante sobre a revista era que ela era um portal para autores estreantes, o desenhista aprendia a desenvolver o seu estilo publicando nela.
Sonho bom! Na época, com os meus quinze anos, eu imaginei que a década noventa seria uma década com mais revistas como a Fierro (até fiz a minha Fierro, a Peekaboo, mas isso é uma outra história...). Pior, sonhei que o século XXI seria o século onde diversos novos Pratt, Muñoz, Breccias estariam por aí. Até tem nego bom, mas onde estão os novos mestres? A força da Fierro era essa, criar gênios. Mas a revista acabou. O sonho acabou. Agora somos reféns de uma nova geração. De novas fórmulas de edição. Os quadrinhos circulam das mais diversas variantes formas de veículos. Do digital ao impresso. Revistas e livros. Vejo que o poder de mídia é forte, mas por que essa arte perdeu a sua força interna?
Quadrinhos agora é gênero cinematográfico? Quadrinhos são um pré-storyboard? E ser quadrinhistas é ser base criativa para diretor ou produtor de Hollywood?
2 comentários:
Fierro neles,Carlito!!!Foda-se o Michael Bay, que é um cuzão que faz filme pra vender carro e relógio "da hora".Quer gente que pensa? Vai ter que procurar fora dos estúdios que tão crescendo.Só os colhões desses caras é que não cresceram...então , dá licença : "Spartans...what's your profession?!!!"
Pax, Fierro neles!
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