terça-feira, 21 de abril de 2009

Anel de Moebius


Ferreira, Pax e Adriano

Vazio. Uma amiga me encomendou um texto sobre o vazio. Confesso que eu senti um uma sensação estranha, um frio na espinha, algo diferente nessa encomenda, uma possibilidade de exposição. Expor e entregar as minhas idéias mais profundas.
Ontem eu encontrei uma carta que uma outra amiga minha, Laura, escreveu para mim, em 1992, uma carta de amor e amizade. Foi como viajar no tempo e ver detalhes das vidas alheias, mas eram detalhes da vida dela e da minha, detalhes das pessoas que fomos e não existem mais. Depois de 1992 foi uma avalanche de coisas, um plural de vazios preenchidos em dramas mal resolvidos e disso resultou a pessoa que escreve agora. Espaço, tempo, forma e vazio. Uma mosca persiste em caminhar no monitor, na tela, e eu penso em exterminar esse inseto porque o inseto vai me dispersando a atenção sobre a encomenda do vazio. Logo desisto lembrando da teoria do caos, é hora de evitar mais um furacão.
Atualmente eu ando em uma fase de puro silêncio, reluto em escrever, preencher os vazios nos meus infinitos blogs. Vou deixando o tempo passar e me ocupo em produzir quadrinhos. Recentemente eu terminei uma história em quadrinhos, é uma adaptação de Telencéfalos, um conto de um amigo de infância, Leandro Adriano. Bom, já falei dessa história em quadrinhos no blog, já falei dessa adaptação fazer parte da revista Picabu, ex Peek-a-Boo, eu já falei sobre a reunião dos clássicos loucos autores que fazem quadrinhos nos pampas (para alguns almofadinhas esses clássicos autores monstros loucos são uns bandos de velhos nada a ver. Eu que conheço esse bando de tantas décadas, anos e meses; eu acho esses bandoleiros os fodões da cocada preta, gangue de guerrilheiros que manda os cuecas de sedas dos quadrinhos de super-heróis para a tonga da mironga mais rápido que Pratt mandaria o otário do Jim Lee lamber sabão.).

Bom, Ferreira, que tal deixar isso de lado e se manter sóbrio aqui? Vou manter a garrafa de tequila longe do estúdio e voltar a pensar no vazio. A verdade é que o vazio sempre se mantém presente. O turvo vai sempre escurecer os meus olhos, definir o futuro como incerto e inseguro. A lei da gravidade atinge a todos. Caímos e decaímos. Morremos. Mesmo que alguns justifiquem que há uma vida pós a vida, ou outros digam que não há merda nenhuma eu prefiro perguntar: Que porra é essa? Senhores, que porra é essa que chamam de vida? Estou vivo? “This is real life?” Que porra é essa? A minha vida se passa ao mesmo tempo em que sua? Acho que não, já que não se passa no mesmo espaço. E há um intervalo de espaço entre você e eu. Quem garante que não há um intervalo de tempo? Como as relações humanas podem funcionar diante disso? Há um espaço que universalmente chamamos de vida entre tu, eu e eles. Mas é vida? Acho que não. Prefiro chamar isso de vazio. Não se iluda se perceber que esse espaço entre nós é da mesma matéria (ou anti-matéria) dos buracos negros - um buraco de minhoca que talvez conecte lados extremos do universo ou galáxia. Estou mais convicto que sim, é o vazio, por que não mais me comunico com o mundo, talvez eu nunca me comuniquei, só estive interligado com você e com os outros na ilusão do não passa nada. Eu não tenho a noção do que é o todo. Do real. E nem quero, ok?
Aos que vierem aqui expressar a sua visão de Deus, cristianismo, o que derivou essa religião e derivados... Desculpa, mas deu, amigos, certo? Encheu o saco qualquer divagação religiosa... E os arrogantes racionais peguem a sua racionalidade e meçam com a infinita irracionalidade do universo e descubram o que parece ser a idiotice sem sentido dos seus argumentos de dois mais um é três. E daí que é três? PI é um número infinito e zero o vazio. E há falhas na matemática...
Contradições, amigos, contradições. Talvez sejamos apenas personagens verbalizados por formas de vidas vazias, vivemos em planos que parecem tridimensionais, mas talvez seja tudo bidimensional. E no fim da tua vida foi algum moleque que fechou o gibi e não curtiu essa história boba tipo Crise nas Infinitas Terras. Te fodeu!
Já repararam que as histórias em quadrinhos não deixam de ser uma metáfora para essa metafísica? Os quadrinhos possuem esses intervalos, o vazio, entre quadros e formas. Os átomos dos quadrinhos não se tocam, mas esses dançam quânticos ziguezagues como o desenho da letra Z e dão velocidade e movimento ao tempo e espaço dentro dos seus quadros. E fluem expurgando o vazio da vida buscando a bela tradição de contar histórias. Na maioria das vezes são bobas e caretas, mas quando aparecem boas histórias... Essas influenciam a nossa forma de ver o mundo. Provocam. Então, eu penso mais uma vez que é esse é o sentido de eu me expressar com os quadrinhos, não consigo me expressar ou ser entendido de outra forma. Não consigo ser ou me perceber vivo sem eles. Sou um ser humano incomunicável e contraditoriamente um contador de histórias. No fundo sou o vazio e a forma dentro e fora de mim, porque há ruído demais no mundo. Eu logos informação e deformação viva. “E no fim da tua vida um moleque fecha o gibi não curtindo essa história boba que tu foste inserido.”

“Faltou super-heróis e só tem páginas em preto e branco. Cadê a ação e a cor?”


Desenho: Ferreira, Figueró e Pax

2 comentários:

Daniel Pereira dos Santos disse...

Existe o vazio de querer fazer... e não poder. Ou não conseguir. E também aquele de não ter mais interesse por coisa alguma. Eu entendo de vazio.

Jerri Dias disse...

E nada como uma boa punheta ou trepada pra isso tudo ir pro saco (ou pra buceta)... ah, vc entendeu!