quinta-feira, 16 de abril de 2009

Eduardo Nasi cria interessante dogma para as Hqs

1) A pluralidade é fundamental. Tendo isso em mente, todo o participante do Dogma deve ler mensalmente quadrinhos de cinco nacionalidades diferentes e de cinco gêneros diferentes. A regra apenas não se aplica a quem ler menos de cinco edições por mês. Nesse caso, ainda assim, não se pode repetir nem nacionalidades nem gêneros.

2) É proibida a leitura de quadrinhos em que personagens ranjam os dentes para expressar raiva ou furor, simplesmente porque essa não é uma reação humana. Humanos gritam, choram, fazem beiço e demonstram emoções.

Quem range dente sofre de bruxismo, e somente personagens com bruxismo declarado poderão ranger sua arcada dentária. Este item, que pode soar ingênuo e despropositado, não deve ser menosprezado, pois resolve aproximadamente 78% dos problemas do mercado de HQs.

3) Como os quadrinhos foram dominados por homens ao longo de sua história, a misoginia não poderia ser vetada de forma alguma. Mas deve-se rejeitar HQs misóginas toscas, de autores que claramente passam a impressão de nunca terem passado a noite com uma mulher de verdade na vida. Em caso de dúvida, o quadrinhista Robert Crumb pode ser considerado um cânone para a avaliação do que é boa misoginia.

4) O uso de saco plástico para proteger os quadrinhos não é aceitável. Bons quadrinhos precisam de oxigênio. Por consequência, veta-se o uso de pinças, luvas ou de qualquer outro tipo de frescura para armazená-los e manuseá-los.

5) O apego ao mundo material, na forma do colecionismo obcecado, tem causado grande mal aos quadrinhos e precisa ser desestimulado. Bons quadrinhos devem circular. Empreste-os ou, preferencialmente, doe-os para que outros possam lê-los.

6) A expressão "É cofre" para designar compra obrigatória de uma HQ está abolida. A aquisição de quadrinhos não pode ser vista como um comportamento ansioso ou desesperado, nem mesmo como um investimento. Além do mais, a ideia de "cofre" implicita a restrição à circulação dos quadrinhos, contrariando o item 5.

7) A publicação de quadrinhos na internet é profundamente incentivada pelo Dogma, desde que as obras sigam o que está estabelecido nele.

8) O Dogma nada tem a dizer a respeito da moralidade envolvida na prática de pirataria digital, que vai da consciência e da postura de cada leitor, bem como da decisão particular de obediência ou não das leis.

Contudo, o Dogma acredita que os autores e editores dos bons quadrinhos devem ser sempre recompensados pelo seu trabalho. Os participantes do Dogma devem ser informados que essa recompensa costuma ser um incentivo para que o trabalho tenha continuidade.

9) As tiras diárias publicadas na imprensa são consideradas um veículo poderoso de catequização do público não especializado. Portanto, todo participante do Dogma é estimulado a entrar em contato com jornais e revistas a que tem acesso para pleitear melhorias na seção de tiras das publicações. Na oportunidade, pode-se solicitar também uma cobertura melhor e mais crítica do setor de quadrinhos.

10) Cada participante do Dogma deverá repassar o texto para outros três leitores de quadrinhos.

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