sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Paisagens Suspeitas


Não sei se o Gelson Radaelli tem a intenção de assustar as pessoas com o seu trabalho, mas conheço muita gente que tem medo dos seus quadros. Na verdade, andei constatando, sentem horror quase pânico diante daqueles quadros enormes que nos contemplam. Um pouco por isso; diante dos quadros de Radaelli nos sentimos contemplados. Isso, é evidente, dá um certo calafrio no incauto observador. Não a banalidade do frio na espinha que causa o filme de terror ou os romances de Stephen King. É outro calafrio. Talvez aquele que nos atinge quando fechamos a última página de "A outra volta do Parafuso" de Henry James, ou caminhamos solitários por certas ruas de Porto Alegre. Quando somos obrigados a pensar. Quando olhamos a nossa volta. Quando vemos essas paredes cinzas, esses rostos frios, essas pequenas mãos sujas estendidas, esses papéis voando, esses homens de sobretudo preto que circulam silenciosos e nos olham sem compaixão e nos deixam desamparados, com sentimento de culpa que não sabemos identificar porque nos sentimos suspeitos de alguma coisa. Alguma coisa muito estranha, muito feia, muito escondida fizemos em algum lugar e os quadros estão ali, mudos, grandes, em preto e branco e com aquela pastosa massa vermelha sangue para nos informar que eles sabem. Eles sabem. Alguma coisa eles sabem, alguma coisa que nós mesmos já esquecemos, mas aqueles quadros enormes, com aqueles homens disformes, sabem. Neste emaranhado de mentiras em que se transformou nosso universo de podres humanos, tudo é suspeito, e a pintura de Radaelli não nos deixa esquecer isso. As benesses são suspeitas, os elogios são suspeitos, a grana é suspeita, a glória é ainda mais suspeita, a paisagem é suspeita. A única e minúscula esperança, a básica esperança é a pintura em si mesma, incorruptível no seu horror velado: ela é a tenaz resistência do artista, o corredor impoluto que o leva para a alma.

Tabajara Ruas

Um comentário:

Daniel Pereira dos Santos disse...

Não conheço o sr. Radaelli. Mas temo a srª. Sílvia Motosi. Mas minha opinião é suspeita.