domingo, 2 de novembro de 2008

Vinicius Martins

Outro sábado, 01 de novembro. Como eu disse, sábado passado um sábado especial. Um tio meu acabou morrendo no fim desse sábado. Seu nome João Jorge Marques dos Santos. Passarinho, Jorge, morreu de câncer, um querido parente, foi uma morte injusta, sofrimento por anos. Morreu em condições delicadas de pobreza e tristeza. Eu não acompanhei os seus meses finais, certo sentimento de culpa eu sinto, mas a minha covardia e preconceito foram mais forte. Mantive-me longe dele, posterguei uma visita até o extremo. No domingo eu fui ao enterro.
Ok, fui um filho-da-puta. Eu que declaro sempre aqui um grito sobre mantermos a nossa humanidade, estou agora mostrando um lado meu obscuro, mas fazer o quê? Joguem as pedras!
...
Bom, mas não é de mim, ou minha família que eu quero falar aqui hoje. Vamos deixar isso para um outro momento. É sobre o quadrinhista Vinícius Martins. Antes de eu dizer qual quer coisa sobre Vinicius “Vinz” Martins vamos mostrar o que ele era capaz de fazer nos quadrinhos com os seus 17 anos. Leiam:


vinz

pagina 1



página 2


página 3




página 4

Eu reli essa hq no mesmo sábado da morte do meu tio. Impressionou-me o texto, a narrativa e até os desenhos que a primeira vista parecem traços feios, duros e sujos, mas lendo esse quadrinho você vai descobrir que são garatujas atmosféricas dando um senso de pavor e ruína.
Essa hq foi lançada em uma revista “fanzine” independente chamada Fantoche. Isso em 1989, a Fantoche, uma coletiva de autores juvenis, artistas que se conheceram na escolinha de arte da UFGRS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Eram Ethon Fonseca, Vinicius Martins, Moacir Martins, Daniel Pellizari e Luiz Pellizari. Todos esses guris envolvidos tinham sensibilidade, inteligência e humor peculiares. Expressaram idéias e buscaram experimentar um senso de intimismo que divergia das correntes estéticas dos quadrinhos profissionais onde na maioria das vezes esses quadrinhos profissionais publicavam e exploravam os gêneros de humor, aventura e super-heróis.

Em “Feliz Aniversário”, Vinicius Martins filma um curta em quadrinhos. É meticuloso e original o uso da câmera.

Primeiro ato:
A história começa com um plano interno, detalhe de uma quina de paredes revelando parte dos tijolos de um imóvel não conservado, um conjunto de hachuras irregulares sugere a luz e sombras como mais uma textura caótica no ambiente. Já no primeiro quadrinho somos inundados com o clima da história. Cabe dizer que essa primeira página é toda muda, em silêncio, sem nenhuma placa de texto ou diálogo. O único texto existente que temos é o titulo da história que também é uma informação impar de corrosão e humor negro. O primeiro quadro se destaca na página por que tem uma proporção maior de espaço e dimensão, se diferenciando dos outros quadros que são de exato mesmo tamanho. Se fosse um filme, eu diria que a história começa com uma pan, de movimento sutil, de uma quina de parede até chegar há uma das personagens de “Feliz Aniversário”.
Segundo quadro, aqui não só nos foi apresentado uma personagem, mas um condomínio (metafora para um universo e personagem quase kafkaneano.). A personagem de costas nos revela que está observando para fora da janela à vida, enquanto fuma um cigarro deixando passar o dia (aqui é usado uma técnica de mestre por parte do Vinicius, sem saber quem é essa personagem nós já nos identificamos com ela. Quem aqui não experimentou momentos de voyeurismo?).

Segunda linha de quadros da primeira página (Conjunto de quatro quadros): Mais um raciocínio de gênio pode ser observado com o que vem: Parece que após a indução mágica de identificação com a misteriosa personagem, passamos a ver com os olhos dela uma janela.
Terceira linha de quadros: é onde a textura muda para um clima escuro, hachuras densas nos revelam que há o mal ali.
Quarta linha de quadros: Virando a página o mal (escuro) é soprado para longe e vemos um rosto na janela. Parece que há uma comunicação de olhares entre essa nova personagem e a primeira. Mas essa troca de olhares, ou afinidade não é ordinária, mas um mistério na trama. Fim do que vou chamar de primeiro ato.

Segundo ato:
Quinta linha de quadros: começa o segundo ato. Há uma mudança de enfoque da narrativa com o surgimento de diálogos. Não sabemos muito bem quem fala o que no primeiro quadrinho, da quinta linha.
Segundo quadro: Ainda temos a segunda personagem na mesma posição na janela, mesmo com uma leve mudança na posição da câmera. É nesse, o segundo quadro, que somos apresentados aos novos personagens, um casal, que faz uma mudança, começam viver juntos no mesmo apartamento da segunda personagem (irmão do suposto namorado). Esse segundo ato se sustenta em duas linhas de quadros, formando um total de oito quadros. É aqui onde acompanhamos o principal conflito da história, a segunda personagem é um homem que possui uma rara doença que o faz envelhecer rápido e aparentemente isso também o faz ser tratado de uma maneira isolada e especial. Ser tratado como um deficiente.

Terceiro ato:
Há uma elipse de tempo simbolizada com a janela fechada do segundo apartamento, lar do casal e do homem doente. Essa elipse é peculiar e mais uma das peças de grande originalidade da história. Um quadro, o primeiro quadro da quarta linha de quatro quadros está em silêncio, dando uma margem de respiro entre o ato anterior e o próximo, meticulosa narrativa desenvolve uma sutil mudança de tempo e processo da relação do casal. Agora o Casal vive a densidade das discussões mundanas da rotina, onde a catarse das brigas é o irmão doente. Agora ele é caracterizado como um homem bem mais velho e mais calvo isso reforça o desenvolvimento da doença e a passagem do tempo. Ele ainda não saiu da posição da janela, de ser um observador. O casal briga por isso, o homem doente escuta tudo (ver detalhe: orelha. Quadro 4 da linha 4 de quadros.) resultado disso é uma briga. A mulher é espancada pelo marido. E outra vez, o rosto do irmão doente. Saímos da intimidade desse apartamento pela janela fechada.

Quarto ato:
Em corte seco para o interior do apartamento. Somos apresentados ao centro da trama. Uma ruptura é declarada (monólogo do irmão não doente que explica a condição deles viverem juntos no apartamento). Os irmãos estão no escuro ( revelação do mal). Quase não aparece o irmão doente, quando aparece ele é uma figura em silhueta (ver o quadro 1 da linha dois da terceira página.).

“...e bem...o que eu to querendo te dizer é que... eu não vou mais pode cumprir o trato queu fiz com a nossa mãe...eu não vou podê mais te sustentá...”

Próximo dois quadros com close no irmão não doente, fechando nos olhos expressivos. Eu particularmente sinto curiosidade e culpa nesses olhos. Essa tensão é dada pelo autor sem qualquer uso de texto explicativo. É intensificado e é sugerida essa tensão emocional com a construção dos diálogos que antecedem esse dois planos, e que postergam o fim da cena.

“ É bom vê que tu compreendeu!”

O destino é traçado ao irmão.
É importante ressaltar a ausência da mulher. Sentimos com essa ausência que ela não vive mais ali.

Quinto ato:
Agora quem ocupa o lugar do irmão doente é a mulher, o diálogo no primeiro quadro sugere uma crise de consciência. Mais uma peça preciosa e não casual da história. Uma escolha foi feita entre o irmão e ela ( No fundo, quase como uma sombra o homem diz o tempo em que o irmão já não vive mais lá. Passaram dez anos).
Estão os dois velhos. No terceiro quadro da quarta linha de quadros da página três, o homem segura um objeto, o que eu leio como um espelho. Ele desenvolve o seu histórico com o irmão, reflete que o abandonou e acha que talvez até esse deva estar morto. Morto de velho e o peso da suas próprias vidas em ruínas afloram em seu rosto em corte estranho no quadro.

Sexto ato:
Homem com o jornal na mão mascara o seu rosto. É como o uso de um lençol escondendo as feições de um cadáver. A mulher segue o mesmo truque do marido abafando a sua vida de si mesma enquanto fecha a janela e limpa os vidros. A câmera sai do apartamento e retorna para o primeiro apartamento acompanhado de um estranho som.
Vemos a fotografia de um casal em um porta-retratos sobre uma penteadeira, ou um armário pequeno. Essa fotografia está refletida em uma lente de óculos, o estranho som ainda acompanha o desenvolvimento da cena. O rosto da nossa misteriosa primeira personagem. Ele está com uma corda no pescoço e se enforca. O som é do enforcamento. O suicídio é concluído em um fade até o fim da história.

Quando reli essa hq eu pensei em redesenhar essa obra, mas avaliei melhor e decidi não. Já está tudo lá, ela tá pronta, e se eu fosse fazer, eu só mostraria uma arrogância minha de querer mostrar que o meu desenho é melhor. Que imbecil eu seria. Não acredito nesta escala de valores quando um obra dessa atinge tal intensidade e valor artístico. Carlos Ferreira, seu prepotente. Redesenhar "Feliz Aniversário" seria só passar um verniz em um quadro de Vang Gogh. A magia dessa obra prima tá toda ali. Nada vai tirar isso, ainda me espanta ela ter sido desenhada por um menino de 17 anos. Hoje a garotada de 17 anos não faz mais hqs assim. Quando fazem hqs, querem desenhar mangás e super-heróis. Naquela época não era diferente, mas temos esse exemplo aqui de maestria impulssionada por uma geração mais intelectualizada. Formada por uma geração de autores mais libertos de formulas. Bebiam da fonte das revistas como el Víbora, Cimoc, Fierro, Metal Hurlant, Linus e Animal. Também estavamos todos mais próximo do cinema de autor e da literatura beat e das outras escolas literárias como o realismo fantástico.
Eu li essa hq e no mesmo dia lidei com a morte do meu tio. Essas duas situações se chocaram em mim. Levaram a eu me questionar, rever os meus valores, seguir em frente...

Vinicius Martins, o Vinz, ainda desenha quadrinhos. Recentemente ele fez uma série chamada Dêmonios na Cozinha, que é inédita e bem divertida. Eu li. Ele tem outras hqs curtas, ótimas! Mas o cara está um pouco recluso, abandonou o mundo, se dedica a música eletrônica industrial em sua caverna, já é um senhor e pai de família. Um puta artista que faz diferença e falta com as suas garatujas de gênio. Vale descobrir!

4 comentários:

Pellizzari disse...

Isso é do Fantoche, né? Lembro que nesse mesmo número tem uma historinha de terror que eu e meu irmão fizemos pra minha irmã, que estava na fase de ter medo de bonecas. Eu tinha sei lá, 14 anos, e o Monty 11 ou 12.

Bom fanzine :-)

Carlos Ferreira disse...

Opa!
Sim, essa hq saiu na Fantoche.
Esses dias encontrei o teu irmão e ficamos falando pacas desse fanzine.
Vocês com essa hq da boneca...massa! Anteciparam o Chuck!!!
Veja só, só 14 anos e o teu irmão com 11 anos?
Do caralho!!!

Jerri Dias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jerri Dias disse...

Carlos, concordo coms os enquadramentos e com a maturidade da história que estão acima da média, mas continuo achando esses desenhos ruins, já que sei que eles não são propositalmente dessa forma.

Em tempo, queria te dar uma dica sobre blogs e internetiqueta que podem ser úteis (forma muito úteis por meu blog). A única dica que tenho pra te dar é que não respondas teus leitores no teu próprio blog, já que a maioria das pessoas não volta pra rever o mesmo texto e nunca vai ler tua resposta. Se tu clicares no nome dela ou no ícone tu vai até o blog da pessoa, aproveita pra ler um post e responde ela no comentário dela, onde certamente ela vai ler, principlamente se ela habilitou o blog pra avisar ela por e-mail quando houver mensagem nova. Dessa forma, tu retribui a visita que ela te fez e garante que ela leu tua resposta. E aqui, mais dicas de um expert. Não concordo com todas e nem uso todas, mas a 3, 4, 7 e 9 ajudam horrores.

Abraço.

10 dicas para ter um blog de sucesso

por Phelipe Cruz*

Criar um blog é muito fácil, mas vê-lo cheio de visitas e comentários já é bem mais difícil. Foi pensando nisso que selecionamos 10 dicas que vão fazer do seu blog um verdadeiro sucesso

1- Blog não é Bíblia
Não adianta achar que todo mundo vai ler aquele texto gigantesco e detalhado que você escreveu. A maioria das pessoas não tem paciência para grudar os olhos numa tela de computador e ficar lendo por muito minutos. Portanto, escreva pouco. Diga o suficiente. Faça um texto com muitos parágrafos e divida as suas idéias criando sub-títulos. Outra dica é colocar as palavras mais importantes do texto em negrito.


2- Ninguém quer saber o que você almoçou
Tente falar de assuntos que vão interessar a todo mundo. Evite falar sobre como você ama espinafre ou da camisola que você ganhou da sua avó. Mas, se for uma dessas histórias for engraçada, ignore essa dica e escreva mesmo assim, tá?

3- Troque idéias com os seus leitores
Responda aos comentários que eles deixam no blog. É preciso ter muita paciência, mas um bom jeito de atrair leitores é dando atenção, respondendo e conversando.

4- Atualize com frequência
Sabe aquele blogueiro que “posta” semanalmente? Duvido que ele tenha muitas visitas. Se você quer comentários e bons acessos, seu blog precisa ter novidades diariamente. Criar blog é como pôr um filho no mundo. É fácil fazer, mas é complicado criar, tomar conta e vê-lo fazer sucesso.

5- Use fotos no post
Conhece aquele ditado: “uma imagem vale mais que mil palavras”? Na internet, isso se encaixa perfeitamente. Uma boa foto no seu blog vale mais do que 3 bilhões de palavras (ok, exagerei). Mas é fato: se a imagem que você escolheu para ilustrar o seu post for interessante, a maioria das pessoas vai ler o que você tem para dizer, comentar e discutir.




6- Tenha um layout legal
Na hora de escolher o seu template, opte pelo mais bonito e agradável para os olhos dos leitores. Use a fonte num tamanho ideal para que todos leiam, evite cores que não dão contraste (ex: se a cor da sua letra for vermelha, nunca coloque um fundo amarelo ou laranja).

7- Dê link para recebê-los de volta
Viu uma notícia legal no blog do seu amigo? Cite no seu e dê o link. Não economize na bondade. Distribua links. Assim você mostra que você sabe onde acontecem coisas bacanas e os internautas vão sempre voltar para ler. Por outro lado, o blogueiro
citado fica feliz pelo link e retribuiu a gentileza.

8- Use vídeos no post
Está sem idéia para postar? Vá para o Youtube. Um vídeo legal que você encontrou no site pode render um post sensacional. Não pense 2 vezes em colocar um videoclipe legal ou um vídeo engraçado. Internet não é só texto e foto. É também vídeo, música e muita animação.




9- Use os sites de comunidades sociais
Muitos internautas ficam navegando pelo orkut, no twitter e em outros sites de relacionamento. Uma boa idéia é divulgar os seus posts nesses lugares. Exemplo: acabou de escrever algo muito legal sobre a Rihanna? Procure a comunidade dedicada à cantora no orkut e mostre o link para os participantes.

10- Cuide do seu português
E quando eu falo em português, não estou me referindo aquele moço da padaria e nem aqueles que nos colonizaram. Estou falando da nossa língua portuguesa. Antes de publicar um post, pare para revisar por alguns minutos. Veja se tem erros, use as vírgulas corretamente, evite o miguxês. Já imaginou se alguém lê um post cheio de erros? Tenho certeza que essa pessoa não te visitará mais. A internet é cheia de dicionários online. Use todos eles e não maltrate o português. Boa sorte!

* Phelipe Cruz é editor do site da Capricho e dono do blog Papel Pop, um megassucesso na internet.